Crítica | Pokémon: Detetive Pikachu

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 09 de maio de 2019

“Temos que pegar!”. Quem cresceu no fim dos anos 90 deve saber de onde vem essa frase. Mesmo que seja oriundo de jogos, Pokémon se tornou um verdadeiro fenômeno mundial ao se tornar um anime (animação japonesa). Agora, as criaturas ganharam vida em Pokémon: Detetive Pikachu. E apesar de ser adaptação de um jogo de mesmo nome, a maior força desse live-action é a ligação com toda a franquia animada.

Nas mãos do diretor Rob Letterman (Goosebumps: Monstros e Arrepios), o que vemos é um longa onde o fator nostalgia tem forte peso. O tempo todo nos deparamos com diversos Pokémons, de várias gerações, enquanto conhecemos a cidade de Ryme City. Psyduck, Bulbassauro, Mr. Mime, Tauros… Os fãs não terão o que reclamar nesse ponto. É perceptível o cuidado da equipe de efeitos visuais em criar um design fiel das criaturas, deixando-as carismáticas e as mais realistas possíveis, e nos inserindo em um universo em que eles e os seres humanos convivem em harmonia.

Nesse filme, acompanhamos Tim Goodman (Justice Smith) na sua jornada em busca de solucionar o acidente que envolveu o seu pai. Para isso, ele contará com a ajuda de um Pikachu viciado em cafeína e resolver casos. Assim, é na dinâmica da dupla que resulta o maior elo emocional do projeto, com um relacionamento que fala de amizade, confiança e parceria, se ramificando para outras direções. A boa atuação de Smith também é essencial para essa identificação com seu background. No geral, a mensagem que se transmite é sobre família e união.

Os easter-eggs e as referências, que vão desde a canção tema original, passando pelo primeiro filme animado, de 1998, até episódios específicos da série, trazem uma empolgação para qualquer fã. Então, em vários momentos somos conquistados por um longa muito divertido e de ótimos efeitos especiais, com destaque, é claro, para o personagem-título. Pikachu é simplesmente uma graça e fofura pura, conquistando a todos com suas adoráveis feições. Mesmo soltando piadas de duplo sentido, que somente os mais velhos vão entender, as crianças facilmente vão gostar dele.

Detalhe que o público infantil é outro grande foco dessa adaptação, tanto que a Warner Bros. decidiu que mais de 95% das cópias no Brasil serão dubladas, para que os pequenos também possam aproveitar a sessão. Acaba que todo esse contexto tem seu lado positivo e negativo: Detetive Pikachu vai criar uma geração nova que se apaixonará pelas criaturas e que também deve procurar conhecer mais esse universo. Porém, mesmo com uma excelente dublagem brasileira, a falta de oportunidade por cópias legendadas prejudica o interesse de quem gostaria de ver o trabalho de Ryan Reynolds na voz do Pikachu (principalmente porque o ator se destacou no marketing do longa).

O grande problema é que, infelizmente, temos um roteiro extremamente simples e comum. Para quem prefere uma história mais elaborada e fluida vai se incomodar bastante, pois os roteiristas Rob LettermanDan Hernandez (Um Dia de Cada Vez) e Nicole Perlman (Capitã Marvel) abusam dos clichês e dos diálogos expositivos, a ponto de colocar uma cena em que o vilão grita todo o seu plano – e a resolução previsível piora a situação. A parte investigativa também é bastante discutível, já que os protagonistas nem sempre tomam suas próprias decisões, sendo levados por discursos de outros personagens.

Contudo, nada é mais complicado do que ver que, em certo momento do enredo, os Pokémons se tornam apenas figurantes. Se o próprio título os coloca em destaque, porque as criaturas ficam em segundo plano? Talvez a continuação, já em desenvolvimento, explique essa decisão e foque mais neles. O pontapé inicial foi dado e agrada, mas necessitava de alguns ajustes que renderiam uma experiência melhor.

No final, Pokémon: Detetive Pikachu cria uma deliciosa nostalgia para os fãs, se encontrando no meio-termo: um filme família, que garante a diversão de seu público, mas que se prejudica pelo roteiro fraco e pouco original. A adaptação poderia ter ousado mais em sua abordagem, perdendo a chance de se tornar algo verdadeiramente memorável. Entretanto, a boa recepção mostra que nosso querido Pikachu ainda renderá mais frutos para o cinema.

Crítica | Pokémon: Detetive Pikachu
Pokémon: Detetive Pikachu é pura nostalgia para os fãs da franquia. O destaque, é claro, fica para a fofura e feições do personagem-título, garantindo uma boa diversão para o público. Porém, o roteiro carregado de previsibilidade e pouca ousadia deixa o longa com um gosto agridoce para o espectador. Um bom pontapé para a franquia cinematográfica, mas que necessitava de mais ajustes.
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