Depois de ganhar um documentário sobre sua vida em 2009, Simonal terá sua história contada novamente nas telonas, agora por meio da ficção. A direção é de Leonardo Domingues, que trabalhou na pós-produção do documentário e apresenta mais um ótimo trabalho.
A cinebiografia começa nos anos 1960, quando Simonal é “descoberto” por Carlos Imperial, e cobre toda sua ascensão artística. Já na segunda metade, durante a Ditadura Militar, é quando o cantor é acusado de um crime e sofre boicote pela classe artística do país, encerrando sua carreira.
Desde a primeira cena, é possível perceber alguns aspectos que chamam atenção e se mantêm durante toda sua duração. O filme abre com um extenso plano-sequência muito bem coreografado, que começa em uma externa e passa por todos os convidados até chegar ao palco, em uma apresentação de Simonal. Além disso, também já notamos, de cara, a qualidade do trabalho de reconstrução da época. Isso inclui um figurino com cores vibrantes, que ficam ainda mais evidentes por conta da escolha da fotografia saturada. Essa decisão nos passa a sensação de que não estamos assistindo a um filme produzido atualmente, mas sim uma gravação da época. Graças a isso, a transição entre filmagens e imagens de arquivo é imperceptível.
O ator Fabrício Boliveira, mesmo não sendo parecido fisicamente com Simonal, convence no papel principal. Ele passa um jeito malandro, descontraído e metido, além de mostrar muito gingado. Isso ajuda na recriação das apresentações, que são feitas com maestria. Apesar de usar o recurso da dublagem – não é a voz de Boliveira que ouvimos, mas sim a de Simonal – ainda passa a sensação de veracidade que o momento pede. Uma das melhores sequências é durante uma apresentação na TV Record, enquanto canta a música “Meu Limão, Meu Limoeiro“. Além de mostrar sua habilidade de conduzir a plateia, ainda há outro longo plano-sequência em que ele deixa o show, vai até a rua e depois volta para o palco.
A química entre Boliveira e Isis Valverde é fundamental para a relação entre Simonal e Tereza funcionar na trama, principalmente pela importância da personagem na vida do cantor. Os dois protagonizam cenas românticas, mas também momentos intensos das brigas do casal. Porém, a personagem de Isis passa por muitas mudanças com o decorrer dos anos, apresentando uma inconsistência do roteiro. Outro destaque é Leandro Hassum, que tem muita presença em cena como Carlos Imperial. Apesar de ter pouco tempo de tela, é o suficiente para se tornar marcante.
Durante o momento de ascensão da carreira, Simonal apresenta uma característica brega – no bom sentido – como as músicas dançantes e empolgantes, além de todo o visual da época, incluindo figurino, cabelo e maquiagem. Até aqueles que não viveram naquele tempo vão reconhecer as canções e pelo menos acompanhar o ritmo contagiante.
Na segunda metade do longa, o tom muda completamente para contar sobre a parte polêmica da vida do cantor. Essa transição não é tão gradual e parece que estamos assistindo a outro filme, com foco na administração da carreira do músico e não nos shows em si. Também é discutido o boicote que o artista sofreu na época, abrindo espaço para uma reflexão sobre o lugar do negro na sociedade hoje.
Simonal é uma ótima forma de celebrar a carreira do cantor, mostrando seu legado para a música brasileira. Também é uma forma de fazer um paralelo com os tempos modernos, alertando para que a história não se repita. É um filme “2 em 1”, que entretém e informa.