Crítica | A Forma da Água

Escrito por: Bruno Brum

em 01 de fevereiro de 2018

Um filme com 13 indicações ao Oscar e duas vitórias das sete categorias que concorreu no Globo de Ouro com certeza chama a atenção de muitos. A Forma da Água, dirigido por Guillermo del Toro, é um dos favoritos em uma das premiações mais importantes do cinema, portanto, resolvemos dar uma olhada e entender o motivo do seu sucesso.

A história é protagonizada por Eliza, uma faxineira muda que passa a se relacionar com uma criatura mantida em cativeiro no laboratório em que trabalha. O filme se concentra no romance vivido entre os dois, mas está bem longe de ser apenas mais uma trama sobre essa temática.

Histórias sobre a relação proibida entre um humano e um monstro não são recentes, já que temos como exemplos A Bela e a Fera, ou até mesmo A Pequena Sereia. Mas Guillermo del Toro soube explorar outros elementos para este tipo de enredo, além de destacar sua própria identidade, criando um filme que só poderia ter sido feito por ele.

Uma das marcas registradas do diretor são seus monstros, que sempre carregam homenagens e referências a diversas outras mídias. O “homem anfíbio” traz características do personagem “meio peixe” Abe Sapiens, de Hellboy; assim como o clássico O Monstro da Lagoa Negra, de 1954.

A criatura é interpretada por Doug Jones, responsável por dar vida à outros seres criados por Del Toro. Esta nova parceria entre os dois foi um ótimo acerto, onde o ator soube se expressar corporalmente de forma natural e realista. Certamente foi uma solução bem melhor do que qualquer monstro feito de CGI.”

Do outro lado está Eliza, interpretada por Sally Hawkins, que merece todas as indicações por atuação que está concorrendo. Mesmo vivendo uma mulher muda, a atriz consegue passar tudo que a personagem sente, como raiva, curiosidade, angústia e satisfação. Além disso, sua química com o homem anfíbio funciona perfeitamente, principalmente pela construção da relação entre os dois. Não estamos assistindo a uma história de amor levada pela emoção, mas também pela razão. A personagem de Sally Hawkins usa argumentos que justificam a decisão de salvar e se apaixonar pela criatura.

Outro destaque está no personagem de Michael Shannon, o antagonista do filme, que passa toda a ameaça que um vilão precisa. Isso fica ainda mais nítido no ato final do filme, quando ele demonstra ser capaz de qualquer coisa para conseguir seus objetivos.

O roteiro de A Forma da Água também aproveita seus personagens secundários, fazendo com que todos tenham bastante tempo em tela e agreguem à trama. Por exemplo, a personagem Zelda (Octavia Spencer) é uma ótima forma de aliviar os momentos de tensão na hora certa, através de seu alívio cômico. Já Giles (Richard Jenkins) conta com seu arco próprio de evolução, mas também demonstra seu companheirismo ao lado de Eliza.

Um dos coadjuvantes mais interessantes é o cientista interpretado por Michael Stuhlbarg, que vive o dilema de trabalhar a favor de seu país ou da ciência. E por falar nisso, o período histórico em que o filme se passa, a Guerra Fria, não é apenas um plano de fundo, como parte integrante da trama. A todo momento é discutida a competição existente entre EUA e Rússia, principalmente em relação a corrida espacial.

Outro elemento da época que recebe importância são as produções televisivas, como os musicais. Eles ajudam a compor a trilha sonora, incluindo a participação brasileira de Carmem Miranda e uma das sequências mais bonitas do filme, que se passa na mente de Eliza. O longa ainda conta com a excelente trilha composta por Alexandre Desplat, que venceu o Globo de Ouro, e expressa o romantismo onírico, quase como se fosse tirado de um conto de fadas.

Ainda vale destacar a fotografia, quase toda composta por uma paleta azul-petróleo – que parece verde, mas não é -, e se relaciona com a cor do mar. Os elementos em cena, o laboratório e até mesmo o figurino dos personagens seguem esta referência, funcionando harmoniosamente.

A Forma da Água é uma bonita história de amor, mas que também conversa com outros gêneros. Seu roteiro bem resolvido, construção dos personagens e atuações críveis são alguns dos motivos que o destacou em Festivais e premiações. Não me surpreenderia com sua vitória na categoria de Melhor Filme no Oscar 2018.

Crítica | A Forma da Água
A Forma da Água é o melhor exemplo de como uma releitura deve ser feita. Usar um tema batido para criar algo novo e interessante.
4.5

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