Aproveitando o hype dos universos compartilhados, a New Line estreia o novo capítulo da franquia Invocação do Mal, que começou em 2013. Dirigido por Corin Hardy, A Freira funciona como um prequel do primeiro longa, amarrando algumas pontas e expandindo seu universo de forma satisfatória e assustadora.
Desta vez, a história se passa 20 anos antes do primeiro filme e é ambientado na Romênia. O trio formado por um padre assombrado, uma noviça prestes a se tornar freira e um morador local investiga o suicídio de uma freira, que pode ter sido influenciado por uma força maligna.
Desde o início, o longa deixa claro que pretende fazer conexões com suas produções anteriores, adotando um recurso parecido com uma recapitulação de episódio, comum em séries. Outra coisa que se mantém é a atmosfera de terror convincente através de diversos artifícios visuais e sonoros, fazendo com que acreditemos que aquele lugar realmente esteja assombrado.
Um dos aspectos que impressiona é a recriação dos anos 50 – época em que o filme se passa – na Romênia. Além de ressaltar a beleza natural do país, também se destaca a arquitetura, tanto em seu exterior quanto interior, além do figurino. A estética é aliada às escolhas de posicionamento de câmera, enquadramentos e jogo de luzes e sombras.
Para dar vida aos demônios e criaturas temos um ótimo uso da computação gráfica, que na maioria das vezes não fica aparente. Além disso, também há um excelente trabalho de maquiagem para criar a freira, interpretada por Bonnie Aarons, assim como os ferimentos realísticos sofridos pelos personagens.
As sequências de terror usam artifícios já conhecidos do gênero, assim como na franquia, como jumpscares. Porém, o recurso mais utilizado aqui é a forma como elementos aparecem na tela, mostrando que algo está errado, ou desaparecem explorando o medo por não saber de onde ele pode aparecer. Muitas vezes, isso acontece sem cortes aparentes, utilizando da movimentação de câmera e truques de montagem precisos. O problema é que por conta do uso em excesso, ele acaba se tornando previsível com o tempo.
A grande sacada de A Freira é que o diretor sabe exatamente como brincar com seu espectador. A todo momento vemos personagens e elementos serem manipulados de forma que mexam com o psicológico de quem assiste, nos colocando no lugar dos personagens. Isso fica ainda mais eficiente com o uso da câmera em primeira pessoa e sua movimentação, em alguns momentos lembrando um videogame.
O recurso do som é utilizado, principalmente, para anunciar um perigo, assim como sugerir aparições. Porém, o filme também sabe aproveitar seus silêncios, tornando as cenas ainda mais aterrorizantes por não saber o que pode acontecer em seguida.
Entre os personagens, o destaque fica para a Irmã Irene (Taissa Formiga), que se sai bem carregando o filme como protagonista, principalmente pelo seu carisma. A atriz ainda convence como uma mulher pura e inocente, através de sua atuação e caracterização. Seu arco é bem construído, utilizando momentos que provam a sua fé para que evolua com o decorrer da trama.
O padre Burke (Demián Bichir) ganha mais importância através de sua trama secundária, lidando com seus próprios demônios do passado. Ele poderia facilmente ganhar mais destaque em outro possível derivado. Mas quem rouba a cena é Frenchie (Jonas Bloquet), que funciona perfeitamente como um alívio cômico, mesmo se tratando de um filme de terror. Além de servir como contraponto à personalidade da Irmã Irene, ele consegue divertir o público em meio aos sustos, tornando o longa mais envolvente. Infelizmente, ele acaba ganhando menos destaque e é pouco aproveitado.
Apesar de um roteiro com recursos batidos, como Deus Ex Machina e personagens cujas ações não condizem com a realidade, A Freira mantém o ótimo nível da franquia, expandindo cada vez mais seu universo e mostrando que ainda ha muito o que explorar.