Crítica | Altered Carbon

Escrito por: Gabriel Santos

em 08 de fevereiro de 2018

Depois de um primeiro episódio basicamente introdutório neste universo de Altered Carbon, agora chegou a vez de falarmos sobre a série como um todo. A aposta da Netflix no gênero cyberpunk tem como uma de suas principais influências visuais o clássico Blade Runner, mas se destaca pelos diversos questionamentos que cria ao longo dos episódios.

A trama se passa em um futuro onde as pessoas podem trocar de corpo assim como uma cobra troca de pele, permitindo que clonagem e imortalidade se tornam possíveis. Enquanto algumas obras tratariam desse tema apenas de forma superficial, Altered Carbon sabe aproveitar todas as oportunidades para discutir sobre o tema. Por exemplo, como a religião – no caso, os neo-católicos – lidariam com isso? Quem teria acesso a esses recursos? As pessoas perderiam sua humanidade?

Uma das discussões mais legais está no fato de que muitas vezes a consciência é de uma pessoa e o corpo é de outra. Neste caso, o que aconteceu com o corpo anterior daquela consciência ou a consciência anterior daquele corpo? Isso também cria situações peculiares, como a consciência de uma mulher estar no corpo de um homem, ou a de uma criança estar em um velho. São infinitas possibilidades e a série sabe explorar todas elas, criando dinâmicas interessantes e que acrescentam à experiência.

Este fato também implica diretamente na atuação, que convence. Ele cria casos como um ator que interpreta três personagens completamente diferentes ou dois atores vivendo o mesmo personagem. Isso acontece com Joel Kinnaman e Will Yun Lee, pois ambos dão vida a Takeshi Kovacs, o protagonista da série.

A principal missão de Kovacs é resolver um assassinato, mas isso acaba ficando em segundo plano na trama para dar lugar à sua própria história. É interessante acompanhar como ele está preparado para lidar com as situações que enfrenta, principalmente por conta de seu treinamento no passado.

A série conta com um visual de alta qualidade técnica e artística, não ficando atrás de grandes produções hollywoodianas. Isso faz com que ela se destaque em meio a outras séries de televisão, se preocupando com detalhes de composição de cena, harmonia visual e uma ambientação crível. Esses elementos estão presentes desde as ruas sujas iluminadas por neon quanto as mansões luxuosas de arquitetura futurística. Ainda vale comentar as sequências de ação empolgantes e energéticas, com destaque para a protagonizada por Dichen Lachman e Will Yun Lee, onde há um bom uso de câmera lenta.

Mesmo que a trama seja centrada em Kovacs (Joel Kinnaman), todos os personagens conseguem somar de alguma forma. Aos poucos vemos o protagonista montar sua própria equipe, onde cada um conta com uma função específica na missão e têm motivos para confiar e segui-lo. Outro núcleo importante são os policiais da cidade, com destaque para Kristin Ortega (Martha Higareda), representando uma mulher forte e corajosa. Entre seus dilemas está a relação com a família conservadora, que resulta em debates interessantes sobre a religião no universo de Altered Carbon.

Seus 10 episódios são o suficiente para contar a história principal e um pouco mais. Temos tempo para desenvolver todos os personagens, deixar suas motivações bem claras e entendermos como funciona aquele mundo. Apesar de tantos conceitos, não é uma história difícil de ser compreendida, principalmente para quem já está acostumado com o gênero.

Altered Carbon cumpre o que promete, aproximando seu público de um futuro bem distante. Ao mesmo tempo que lida com temas universais, onde podemos imaginar aquele futuro existindo, ainda se trata de uma história íntima e pessoal do protagonista. É uma boa alternativa para quem procura um equilíbrio entre sequências de ação bem coreografadas e reflexões sobre a existência humana.

Crítica | Altered Carbon
Altered Carbon é uma boa opção para quem curte a temática cyberpunk e procura discussões ligadas à humanidade sem deixar de lado boas sequências de ação.
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