Após o primeiro episódio desta quinta temporada conseguir trazer conceitos novos para a série, o seguinte, Smithereens, já aposta em uma crítica mais segura, se tornando um dos mais fracos e esquecíveis de Black Mirror. Porém, também podemos dizer que ele é um dos que mais representa a frase “Isso é muito Black Mirror”, pelo fato de que poderia, facilmente, ter acontecido na vida real.
Smithereens é centrado em Chris Gillhaney (Andrew Scott), um motorista de aplicativo que sofreu uma perda recente e agora busca algum tipo de conforto tentando falar com Billy Bauer (Billy Bauer), presidente da rede social mais famosa do mundo. É difícil falar sobre esse episódio sem dar spoilers, pois sua trama tem muita relação com a temática de investigação e vamos descobrindo as razões que levaram Chris a cometer um sequestro durante o episódio.
Uma das principais mensagens do episódio é uma crítica às pessoas que estão vivendo cada vez mais conectadas, principalmente aquelas que são viciadas em celulares. Em alguns momentos, temos um personagem dando um ataque histérico por que ninguém larga o aparelho; já em outro, é questionado o quanto somos dependentes de um smartphone para saber informações simples, como um contato. Também há empresas fictícias que claramente são inspiradas em redes sociais da vida real, como Twitter e Facebook – existe até mesmo um Mark Zuckerberg – fazendo um contraponto de como esses aplicativos foram feitos com o intuito de nos manter presos neles.
Segundo o roteirista Charlie Brooker, a ideia do episódio era falar sobre pessoas que tentam acessar as redes sociais de usuários que já estão mortos, o que piora ainda mais sua situação. Enquanto seria mais efetivo criar uma trama em volta desse assunto, somos apresentados a toda uma construção de uma narrativa paralela que dá uma volta imensa até chegar ao objetivo final. A ideia original acaba ficando em segundo plano e é pouquíssimo explorada.
Smithereens conta com um sério problema de ritmo, pois é um episódio com mais de uma hora de duração e leva um tempo considerável até a história começar de fato. Não somos apresentados aos personagens ou suas motivações, o que faz perder o interesse de forma muito fácil. Quando o principal elemento – o sequestro – começa, temos um pouco mais de movimentação na trama, ganhando elementos de série policial, encaixando os pedaços que faltam no quebra-cabeças e, até mesmo, injetando uma dose de comédia. Não rimos pelas piadas, pois os personagens estão em um momento tenso, mas a falta de profissionalismo de Chris ao sequestrar uma pessoa deixa o personagem mais humano. Infelizmente, não é o suficiente para nos importarmos com ele. Felizmente, o final aberto foi uma decisão coerente levando em conta a proposta, gerando o efeito que se pedia.
Black Mirror se destacou na mídia como a série que discute nossa relação com a tecnologia, muitas vezes com um olhar pessimista, mas sempre construído em cima de tramas inteligentes e criações inovadoras que cativam o espectador. Este episódio se distancia dessa proposta por apresentar uma crítica mais óbvia e recorrente, batendo em uma tecla que já cansamos de ouvir.