Após cinco filmes e 10 anos, a franquia Transformers nos cinemas estava ficando desgastada sob o comando de Michael Bay na direção. Percebendo isso, a Paramount decidiu investir em uma nova proposta para a saga, que faz de Bumblebee a produção mais humana de todas.
Ao compararmos o longa de Travis Knight com os anteriores, as diferenças são gritantes, como no fato da história agora se passar em 1987 e dar mais foco na relação entre Bumblebee e a jovem Charlie Watson (Hailee Steinfeld). Na trama, enquanto a amizade entre os dois se desenvolve, uma dupla de Decepticons chega à Terra para dominá-la.
Bumblebee diminui a quantidade de cenas de ação e se preocupa em contar uma história intimista, servindo como um filme de origem para o personagem. Um dos exemplos é o fato dele justificar, logo no início, como Bee perde a fala, além de descobrirmos como o robô, que era conhecido como B127, recebeu este nome.
O longa abre com uma sequência de ação em Cybertron que já se mostra bem diferente daquelas dirigidas por Bay. Aqui, é captada a estética dos brinquedos e da animação dos anos 1980, onde o visual era bem mais simples e “quadrado”, o que deixa os personagens mais estilosos. O uso dos efeitos visuais também não fica para trás, apresentando uma boa interação entre live-action e CGI, além de fazer com que os robôs fiquem mais palpáveis.
Por falar nos anos 1980, o filme abraça totalmente o período, trazendo todas as referências possíveis, desde a trilha sonora – que encaixa perfeitamente com a proposta – até o vestuário e o design, influenciando a fotografia do longa. Inclusive a Guerra Fria, que era um conflito bastante repercutido, conseguiu ser encaixado na trama de forma que faça sentido.
E então chegamos na família Watson, onde Charlie está inserida. Todas as cenas com esse núcleo são muito boas pela dinâmica entre eles, que ajuda o público a se colocar na pele da protagonista. Ela é uma jovem que quer ser levada mais a sério e vive sua fase rebelde, mas entendemos seus motivos. A personagem tem muitas camadas que fazem dela mais do que uma adolescente chata, e isso acontece graças a forma como é construída e à atuação de Hailee Steinfeld.
Sua amizade com Bumblebee é a melhor coisa do filme, pois os dois se encontram desamparados, mas veem no outro alguém com quem podem contar. Além de momentos divertidos, eles também protagonizam cenas mais dramáticas, como quando Charlie fala sobre o vínculo entre a música e seu falecido pai.
Esta versão de Bee também é mais cativante que a dos filmes anteriores. Ele é um personagem muito expressivo e carismático, mesmo sendo um robô feito de computação gráfica, passando sentimentos através de seus olhos, sua movimentação atrapalhada e personalidade ingênua.
Em relação ao elenco, um dos destaques é Memo (Jorge Lendeborg), o interesse amoroso de Charlie que funciona muito bem como alívio cômico. E o Agente Burns (John Cena), que não foge da persona do ator, mas funciona dentro da proposta. É o típico personagem militar que foi feito para Cena.
O roteiro de Cristina Hodson poderia cometer diversos erros, como bagunçar a linha temporal, mas aqui ela opta por uma trama bem menor e mais contida. Não há o compromisso de tentar amarrar tudo com os outros filmes ou reinventar a roda, partindo de convenções e facilitações para tornar as coisas mais simples. Além disso, a relação entre humano e máquina segue a cartilha de outros exemplos da cultura pop, replicando fórmulas já conhecidas. Não espere um filme surpreendente com relação à trama, mas algo tocante.
Os vilões são muito genéricos e pouco marcantes, servindo apenas para conduzir a história e não passando a ameaça que representam. Mas é importante que essa aventura de Bumblebee seja de um tamanho em que ele seja capaz de resolver sozinho.
Sem dúvidas, Bumblebee é um grande acerto, mostrando que a franquia Transformers ainda pode explorar muita coisa através de novos olhares. É um filme que deve agradar aos novos e velhos fãs, principalmente pelo fator nostalgia e pelo carisma de seus protagonistas.