Crítica | Canastra Suja

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 21 de junho de 2018

verdadeira realidade de uma simples família do subúrbio. Essa proposta de trama pode parecer uma tarefa simples, só que nas mãos de um ótimo diretor se torna uma história muito mais profunda e chocante do que possa parecer. Em Canastra SujaCaio Sóh (diretor, roteirista e produtor do longa) traz os terríveis segredos familiares, em uma das melhores produções brasileiras dos últimos anos.

Tudo começa quando vemos Batista (Marco Ricca)Maria (Adriana Esteves) e seus três filhos, Pedro (Pedro Nercessian), Emília (Bianca Bin) e Rita (Cacá Ottoni), tentando lidar com o alcoolismo do pai. Batista está tentando abandonar o vício por insistência da família. Através dos primeiros diálogos percebe-se que existem outras questões entre eles, que ainda não foram resolvidas. E já são nesses diálogos que o público fica interessado no que está por vir.

Aos poucos é traçado tudo que envolve aqueles personagens tão humanos. Em detalhes, Sóh mostra todas as camadas de cada integrante dessa família. Ele opta pela utilização de vários planos-sequência, deixando as cenas e a história muito mais ricas e reais. Um trabalho primoroso e que surpreende ainda mais quando ele consegue inserir humor em uma história tão intensa, e em momentos aparentemente inoportunos.

O filme não se apressa no que deseja contar. As duas horas são muito bem aproveitadas, somente com poucas cenas que se prolongam mais do que deveriam. Muitos momentos e situações em tela são um verdadeiro choque para quem está assistindo. Os diálogos são muito bem construídos e boas reviravoltas são reservadas pelo roteiro. E é importante dizer que o título não foi escolhido à toa, tendo grande significado para a história.

fotografia de Azul Serra (Aos Teus Olhos) é essencial para a força que Canastra Suja possui. Com predomínio de tons cinza, seu trabalho, mais uma vez, tem grande destaque e reforça a atmosfera densa e sombria da trama. E a trilha sonora de Maria Gadú entra nos momentos certos.

excelente elenco é a peça fundamental para que o resultado tenha sido tão bom. Eles tem muita química – principalmente entre os integrantes da família – e todos estão ótimos em suas atuações, o que é algo muito raro de se ver no cinema. Adriana Esteves é uma atriz incrível e aqui não é diferente. Ela traz várias nuances em Maria e momentos de explosão dignos de aplausos. Marco Ricca foi a escolha certa para interpretar o atormentado e duvidoso Batista. Pedro Nercessian merece elogios também, pois traz em sua fala e gestual uma imaturidade necessária para o seu personagem, e sendo responsável pela maior parte do humorBianca Bin também tem momentos de brilho no papel de Emília e Cacá Ottoni traz um lindo e emocionante trabalho com Rita, protagonizando também uma das cenas mais fortes e angustiantes do filme.

É realmente gratificante ver trabalhos como Canastra Suja, que reforçam que o cinema brasileiro é diversificadocheio de qualidades e produções excepcionais, e não apenas formado por comédias. Com um elenco sensacional, diálogos afiados e um excelente trabalho de roteiro, Caio Sóh se mostra, mais uma vez, um grande cineasta.

Crítica | Canastra Suja
Caio Sóh dirige, escreve e produz um dos melhores longas dos últimos anos. Canastra Suja ganhou vários prêmios e é dramático, intenso, chocante e possui toques de humor. Um filme com atuações incríveis – destaque para Adriana Esteves, Cacá Ottoni e Pedro Nercessian – e diálogos afiados. O cinema brasileiro ganhou mais um grande representante.
4.5

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