Crítica | Colheita Amarga

Escrito por: Bruno Brum

em 22 de maio de 2018

Muitos filmes tem o objetivo de refletir ou criticar um momento ou fato histórico, seja documentário ou ficção. Infelizmente, nem todos conseguem cumprir com as responsabilidades exigidas pelo tema abordado. Este é o caso de Colheita Amarga.

O longa se propõe a falar sobre o genocídio ocorrido na Ucrânia no século XX, o Holodomoor – uma política de extermínio feita pela União Soviética que matou cerca de 12 milhões de ucranianos por falta de comida, durante a década de 1930 – enquanto acompanha um casal de camponeses, Yuri (Max Irons) e Natalka (Samantha Barks), que tentam sobreviver a essa catástrofe.

Dirigido por George Mendeluk – que tem descendência ucraniana –, Colheita Amarga é uma tentativa de abordar um tema sério enquanto se conta um romance, mas acaba caindo no clichê e cometendo incontáveis erros no caminho. O principal deles é certamente o roteiro. Os personagens parecem ser jogados de uma cena para a outra enquanto tudo acontece sem um mínimo de planejamento e coerência. Em um momento, o filme segue a linha de um drama histórico, no outro, ele se torna uma aventura épica e logo depois se transforma de novo, seguindo esse padrão até o fim.

Graças a essa tentativa de se adequar a vários gêneros, o filme não se encaixa em nenhum, o que nos leva ao segundo erro, a fidelidade à história. Obviamente, ser imparcial em uma situação dessas é difícil, mas a obra em momento algum tenta mostrar o passado de uma maneira isenta, abraçando os clichês de heróis e vilões com todas as suas forças.

Há momentos em que você se pergunta se a União Soviética era um governo ditatorial comunista ou se fazia parte dos exércitos de Sauron, de O Senhor dos Anéis. A caricatura dos russos, principalmente de Joseph Stalin (Gary Oliver), proporciona cenas ridículas e hilárias de vilões dignos de uma novela mexicana.

Isso nos leva ao terceiro problema, a atuação. Não que os atores sejam ruins, todos cumprem seu papel no longa, mas graças à tamanha desorganização do roteiro e a péssima direção, os personagens não apresentam consistência com a trama, passando de vilões para heróis, corajosos para covardes e assim por diante. Até mesmo Terence Stamp, que interpreta o guerreiro cossaco Ivan, passa de um combatente para um péssimo tio para finalizar em velho desajeitado.

Por último, mas talvez o pior de todos os erros, é a propaganda negativa feita ao período histórico e aos russos. A falta de cuidado ao se tratar da história fez com que o longa pareça uma propaganda anticomunista, posicionando os soviéticos como grandes vilões e o comunismo como uma ideia terrível e obscura.

No entanto, o filme tem seus pontos altos. A fotografia e a filmagem, feitas por Douglas Milsome, que também cuidou da fotografia de O Iluminado, fez um ótimo trabalho em capturar as belezas naturais da Ucrânia. Por ser um filme histórico, todas as filmagens foram feitas no próprio país em que a trama se passa, o que ajudou na arte do longa. Além disso, o trabalho com o figurino é surpreendente, mostrando diferenças culturais entre os vilarejos ucranianos, as características das pessoas que viviam nas cidades e dos soldados soviéticos.

Ainda assim, o que mais se destaca no filme é a trilha sonora, que se mostra presente em todo momento do longa. Ela também acaba se transformando junto ao roteiro, criando composições diferentes e bonitas, às vezes sendo mais apreciáveis do que o próprio filme.

Colheita Amarga é um exemplo de como não se fazer um drama histórico. Com uma ótima direção de arte, mas um roteiro confuso, atuações fracas e falta de compromisso com os fatos, o filme não deve nem ser considerado uma fonte confiável sobre o tema que aborda, mesmo este seja importante.

Crítica | Colheita Amarga
Colheita Amarga tenta falar sobre um tema importantíssimo, mas seu roteiro confuso e direção fraca o transforma em um péssimo exemplo para os filmes do gênero.
1.5

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