Crítica | Eu, Tonya

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 03 de março de 2018

Determinadas atitudes ou acontecimentos podem marcar a vida de uma pessoa, para o bem ou para o mal. São questões irreversíveis e que quando se está na mídia ou no centro das atenções, isso se torna muito pior – já que o mundo inteiro está te julgando. Essa é uma das questões trazidas pelo ótimo Eu, Tonya, indicado a 3 categorias do Oscar (Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Montagem).

Tonya Harding foi uma patinadora muito famosa dos anos 90. Ousada e controversa, ela desde pequena tinha vocação para o esporte. Fez um “triple axel”, um movimento que nenhuma competidora tinha conseguido realizar até então. Sendo amada e odiada por muitos, ela nunca se encaixou nos padrões estéticos e de apresentação estabelecidos pelos juízes. Apesar disso foi campeã em algumas competições.

O filme mostra em detalhes como a trajetória de Tonya, interpretada por Margot Robbie, foi dramática e triste. O sonho dela era se tornar uma estrela da patinação, mas viveu rodeada de pessoas que fizeram com que a sua vida, tanto no gelo quanto no privado, fosse um verdadeiro inferno e, consequentemente, afetando sua carreira.

A direção de Craig Gillespie é precisa. As cenas são muito bem conduzidas, principalmente as que Tonya contracena com sua mãe LaVona (Allison Janney) e seu marido Jeff Gillooly (Sebastian Stan). A linguagem de documentário e a quebra da quarta parede trazem frescor ao filme, diante de uma história tão intensa. Além disso, todos os principais personagens possuem um tom de deboche, trazendo uma comédia incomum, mas boa.

Apesar de todos esses ótimos acertos, a trilha sonora é um grande erro. As músicas escolhidas não se encaixam, se tornando gratuitas em muitos momentos – as letras dizem exatamente o que está acontecendo em cena. Mesmo muitas delas serem marcantes da época, elas não conseguem se tornar necessárias.

Com uma primeira indicação ao Oscar, Margot Robbie tem uma atuação marcante como Tonya. Depois de interpretar Arlequina no decepcionante Esquadrão Suicida (2016), e ser o grande destaque do filme, ela mostra novamente o seu talento e traz todas as expressões e atitudes da patinadora – a cena da última Olimpíada é um exemplo (a verdadeira pode ser encontrada no Youtube). Aliás, existe um breve momento em que Margot faz uma expressão bem típica da Arlequina. Quando a câmera foca no rosto dela, principalmente nas cenas de apresentação, dá pra sentir claramente a garra e a dedicação que teve no papel. E apesar de não parecer com a verdadeira Tonya, a caracterização dela ficou boa.Foto comparando a atriz Margot Robbie com a verdadeira Tonya Harding.

Já Allison Janney ficou idêntica à verdadeira LaVona – como é possível ver nos créditos. Com uma ótima atuação, Alisson consegue criar uma mãe violenta, que causa raiva no espectador com suas atitudes e frases e fazendo pensar que Tonya poderia se tornar igual a ela. A atriz já ganhou o Globo de Ouro e está concorrendo a Melhor Atriz Coadjuvante. E com certeza tem grandes chances de levar essa outra estatueta para casa.

Sebastian Stan, o Soldado Invernal dos filmes da Marvel, também interpreta bem. O relacionamento abusivo de seu personagem com Tonya é retratado de uma forma bem real, já que muito do que se vê em tela ainda acontece com várias mulheres. Ele e seu amigo Shawn Eckhardt, interpretado por Paul Walter Hauser, planejaram incapacitar uma das concorrentes nas competições com a intenção de ajudar Tonya. Shawn é um personagem tão infantil e idiota que não parece real – existe uma cena de interrogatório dele que é bizarra. Mas nos créditos o verdadeiro Shawn aparece e vemos que ele realmente é assim – e que o ator Paul Walter também parece com ele.

Julianne Nicholson e Caitlin Carver também estão no elenco, respectivamente como treinadora de Tonya e a rival, mas em papéis bem menores – funcionando mais como impulsos para a história da personagem principal ser contada.

Steven Rogers, responsável pelo roteiro, conta que se baseou em entrevistas e relatos de Tonya e Jeff para desenvolver a história da forma mais real possível. A veracidade de alguns detalhes são questionados, mas as questões principais como a violência da mãe, o confronto com os juízes e o drama da olimpíada são completamente reais.

Ao final do filme, o sentimento que fica é: com atuações marcantes, boa montagem e cenas intensas, Eu, Tonya consegue ser um ótimo filme que merece estar em categorias do Oscar.

Crítica | Eu, Tonya
Margot Robbie e Allison Janney brilham em um filme intenso e com um ótimo roteiro sobre uma das figuras mais controversas da patinação.
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