Lançado em janeiro de 2019 no Brasil, Homem-Aranha: No Aranhaverso já foi um grande marco para os cinemas, vencendo todos os prêmios que disputava, incluindo um Oscar de Melhor Animação. A revolução que o filme causou estava ligada diretamente à estética da obra, que reunia personagens de realidades distintas, usando o multiverso como recurso narrativo e visual.
Se o primeiro filme da franquia já era diferente de tudo que já foi feito, estava com expectativas bem altas para o segundo, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso. Surpreendentemente, ele superou minhas expectativas, se tornando ainda melhor que seu antecessor. Basicamente, ele faz melhor tudo que o filme anterior fez, já que agora são vários personagens de universos diferentes, com estilos diferentes, viajando por universos diferentes, o que deixa a experiência cinematográfica ainda mais rica e emocionante.
A trama apresenta a Sociedade Aranha, liderada por Miguel O’Hara, o Homem-Aranha 2099, e composta por Homens-Aranha de diferentes realidades. Nesse contexto, Miles Molares descobre a origem de seus poderes e embarca em uma jornada para lidar criar seu próprio destino.
A história começa de forma excelente, apresentando o universo de Gwen Stacy, que é retratado com uma beleza estonteante, lembrando uma pintura em aquarela, onde as cores são essenciais para expressar como os personagens estão se sentindo. Além de retratar a vida da personagem após os eventos do primeiro filme, o relacionamento dela com o pai é explorado de maneira comovente, proporcionando momentos emocionantes e sequências de ação empolgantes.
Miles também passa por uma grande evolução como o Homem-Aranha do Brooklyn, mostrando um aprofundamento significativo em suas habilidades. Sem entrar em território de spoilers, é interessante observar como o arco do personagem foi cuidadosamente planejado desde o início, com espaço para plot twists e um enredo bem construído. O resultado disso é um conflito em que Miles se coloca contra o senso comum, tentando resolver as coisas do seu próprio jeito. No entanto, o filme consegue apresentar todos os lados da história de forma compreensível, não retratando ninguém como 100% certo ou errado.
Uma das grandes surpresas do filme é a vasta quantidade de Cabeças de Teia. Além dos personagens já conhecidos, como Peter B. Parker, Porco-Aranha, Aranha Noir e Peni Parker, somos apresentados a centenas de novos heróis aracnídeos. Desde o Homem-Aranha gato até o Homem-Aranha dinossauro, cada um tem seu momento de destaque.
Vale ressaltar a eficácia do antagonista Miguel O’Hara, que possui motivações coerentes e carrega consigo um sofrimento palpável, resultante de sua busca por mudar seu destino. Peter B. Parker continua sendo um personagem bem desenvolvido, agora assumindo o papel de pai. O Spider-Punk se destaca pela sua personalidade e estilo, com um design diferenciado que remete às fanzines. Já o Homem-Aranha indiano, Pavitr Prabhakar, é divertido e descolado, apresentando um universo vibrante e colorido. Mesmo personagens que aparecem em poucas cenas, como a Spider-Byte, conseguem chamar a atenção e despertar o interesse para futuras aparições.
O vilão Mancha é outra grata surpresa do filme. Nas histórias em quadrinhos, ele costumava ser utilizado como alívio cômico devido às suas habilidades “bobas”, mas o filme consegue transformá-lo em um personagem poderoso e explorar todo o seu potencial. Ele se torna um elo importante para conectar o conceito de multiverso da animação, ao mesmo tempo em que sua relação com Miles é aprofundada, já que um criou o outro.
Entre todos os pontos positivos da trama, os diálogos são especialmente notáveis, mérito do roteiro escrito por Chris Miller, Phil Lord e David Callaham. As conversas entre Miles e sua mãe trazem reflexões sobre o momento em que os filhos crescem e buscam independência, enquanto os diálogos entre Miles e Gwen revelam os sentimentos de um pelo outro com sutileza. As discussões entre Gwen e seu pai sobre a aceitação da nova identidade da filha como heroína, lutando contra o crime à sua própria maneira, também são muito bem trabalhadas.
No entanto, o único ponto negativo do filme é a falta de um desfecho conclusivo. A trama encerra-se no clímax, que por si só já é extenso, fazendo com que a gente tenha que esperar pelo menos um ano até a conclusão da história.
Em resumo, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso é uma obra-prima do cinema, superando seu antecessor e estabelecendo-se como um marco no mundo das animações. Sua estética revolucionária, o desenvolvimento dos personagens e os diálogos bem escritos são apenas alguns dos elementos que tornam essa experiência cinematográfica tão especial. Embora a falta de um desfecho possa causar uma certa frustração, a espera pela continuação certamente valerá a pena.