Desde que o MCU foi criado, ele segue a proposta de adaptar para os cinemas os diferentes aspectos dos quadrinhos da Marvel. Portanto, há produções mais políticas, contemplativas, que abordam o lado cósmico, o mágico, com escalas menores, maiores, sem deixar de lado a essência dos super-heróis e tentando amarrar todos os pontos em um universo conectado. Nesse caso, a franquia Homem-Formiga se encaixa como um filme da Sessão da Tarde: leve e divertido, para se assistir com a família.
É curioso pensar que esse personagem já esteja em seu terceiro filme, prometendo apostas ainda maiores, mesmo que seus antecessores tenham entregado baixas bilheterias. Para dar início à Fase 5 da Marvel Studios, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania segue a tendência de ser uma obra divertida, porém com uma grande escala e um vilão de peso.
Apesar de ser um longa-metragem, a obra tem uma estrutura que se assemelha a uma aventura seriada. Depois que vão parar no Reino Quântico, a super-família é dividida em núcleos, onde há o desenvolvimento de suas relações, seja entre Scott (Paul Rudd) e a versão de Cassie (Kathryn Newton) mais velha e rebelde ou no conflito gerado pelos segredos de Janet (Michelle Pfeiffer). O roteiro consegue dividir o tempo de tela pra cada um deles brilhar, mas vale mencionar que, mesmo que o título tenha Homem-Formiga e Vespa, o filme é muito mais de Scott.
Apesar de não ser a primeira vez que estamos vendo o Reino Quântico, ele nunca havia sido tão explorado quanto agora. São apresentadas novas civilizações, criaturas com visuais inventivos e personagens que gostei tanto que gostaria de ver mais deles em projetos futuros. Para dar vida a esse microuniverso, o filme leva o uso de computação gráfica ao extremo, tornando-se muito dependente de CGI. Felizmente, a obra mantém o padrão de qualidade do estúdio e usa a tecnologia para dar vida à sequências criativas e malucas, como na Tempestade de Possibilidades.
Assim como nos longas anteriores, Quantumania acerta no tom descontraído, se aproveitando do excelente timing cômico de Paul Rudd, ótimas sacadas do roteiro e personagens ridículos que sabem rir de si mesmo. Ao mesmo tempo, me surpreendi com os momentos mais tensos e dramáticos envolvendo o vilão Kang (Jonathan Majors). O problema aqui é que, por mais que o longa tente passar a ideia do risco que os heróis estão correndo, nunca temos a sensação de que as coisas podem realmente acabar mal.
Apesar do excesso de suspense que a obra cria sobre o antagonista, gostei da maneira que essa versão do Kang é incorporada ao MCU e da performance de Jonathan Majors. Ela é bem diferente da que vimos na primeira temporada de Loki, adotando uma postura que combina astúcia e arrogância. Porém, o personagem promete mais do que realmente entrega. Mesmo levando em conta que veremos outras versões (possivelmente piores) do Conquistador, é um pouco frustrante ver sua batalha contra o Homem-Formiga.
Após Quantumania, a Saga do Multiverso começa a se desenvolver de maneira mais sólida e objetiva. Kang passa a ter mais a cara de uma ameaça nível Thanos, mas ainda não mostrou a que veio. Com sua estratégia de continuar fazendo promessas e guardar o melhor para depois, falta coragem e ousadia para a Marvel Studios de hoje. O resultado é uma aventura clássica do Homem-Formiga, com uma escala maior, mas que joga de forma muito segura com o público.