Crítica | Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

Escrito por: Gabriel Santos

em 11 de novembro de 2023

Mais de uma década após o lançamento do primeiro Jogos Vorazes, a franquia retorna aos cinemas com A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, oferecendo uma visão intrigante do passado do icônico vilão da saga. Dividido em três partes, o filme acontece durante a 10ª edição dos jogos, 64 anos antes dos eventos do longa original, explorando as origens de Snow e seu envolvimento na competição. Além disso, ele apresenta um olhar mais profundo sobre o universo criado por Suzanne Collins, não se limitando aos jogos em si.

A primeira parte foi o ponto alto do filme pra mim, estabelecendo a trama com discussões profundas sobre luta de classes e a ascensão social do protagonista. A transformação dos tributos em espetáculos para conquistar audiência, abordando temas contemporâneos como engajamento do público, seja através de torcida, doações ou apostas, é uma abordagem brilhante. Essa discussão é o ponto alto da Parte 1, trazendo uma crítica intrigante à sociedade e à forma como consumimos entretenimento.

Lucy Gray, interpretada de forma excepcional por Rachel Zegler, é uma personagem cativante e carismática, sendo responsável pelos momentos musicais do filme, que adicionam camadas emocionais poderosas aos momentos mais dramáticos. Sua química com Snow (Tom Blyth) é palpável e intimista, sendo bastante explorada durante a obra e contribuindo para a complexidade emocional da história.

Destacam-se também as performances de Viola Davis como a assustadora Dra. Gaul e Jason Schwartzman como o divertido apresentador Lucky Flickerman. Sejanus Plinth (Josh Andrés Rivera), funciona como um contraponto ao protagonista, oferecendo uma visão mais humana dos tributos, tornando a dinâmica entre os dois amigos bem interessante de se acompanhar.

A segunda parte continua a construir tensão e conflitos, mantendo o espectador engajado com reviravoltas constantes e o uso eficaz da “Arma de Chekhov”. Durante os jogos, são explorados vários tipos de estratégias entre os tributos, e até com envolvimento de seus mentores, sempre trazendo alguma novidade e nunca deixando a trama monótona. Aqui, houve a escolha por retratar as sequências de ação de forma violenta, mas nunca explícita, tornando-se uma boa saída para manter a classificação indicativa baixa.

Tecnicamente, o uso impactante do som é uma surpresa agradável, não só nos momentos musicais, como também na maneira eficaz para interromper os momentos de calmaria. A estética visual do filme é um destaque, com a imponência fascista da Capital contrastando com a liberdade e o acolhimento retratados no Distrito 12. O CGI é eficiente na construção de mundo, embora mais perceptível em algumas cenas na interação dos humanos com criaturas vivas.

A terceira parte foi a que mais senti destoante do longa como um todo, parecendo mais um epílogo. Aqui temos um ritmo e um cenário diferentes, que causa uma estranheza a princípio. No entanto, as referências aos filmes anteriores agradarão os fãs.

A obra cumpre muito bem o seu papel ao retratar as motivações e o surgimento do vilão Snow, proporcionando uma transição convincente do personagem interpretado por Tom Blyth para o icônico papel de Donald Sutherland na franquia original. A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é uma adição valiosa à saga, oferecendo uma experiência envolvente, performances marcantes e discussões sociais relevantes. Vale a pena assistir nos cinemas, de preferência numa tela grande e com um sistema de som potente para aproveitar a experiência ao máximo.

Crítica | Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes
A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes oferece uma cativante exploração das origens do vilão Snow, com uma sólida crítica social, performances marcantes, e uma estética visual impressionante, embora perca um pouco de força nas partes subsequentes.
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