Crítica | Liga da Justiça

Escrito por: Gabriel Santos

em 15 de novembro de 2017

Um dos filmes mais esperados do ano, Liga da Justiça estreou com a difícil missão de fazer uma boa adaptação da maior equipe de super-heróis dos quadrinhos. Essa seria a grande chance da DC se provar nos cinemas, apostando na fórmula que deu certo em Mulher-Maravilha.

Ele funciona como uma sequência de Batman v Superman, e isso fica claro desde as primeiras cenas, onde são mostradas consequências da morte do herói que representava a esperança. O filme tem como pretensão unir a Liga da Justiça, apresentando três novos personagens e trazendo Superman de volta, além de ter que resolver o plot envolvendo as caixas maternas. Mesmo com tanta coisa para acontecer, o roteiro é enxuto. É possível perceber um esforço para resolver tudo em um único filme sem deixar pontas soltas e dividindo o tempo de tela de cada herói.

Por falar neles, um dos pontos altos do filme não é apenas a caracterização dos personagens principais, como também a interação entre eles. Além disso, cada um conta com personalidades e habilidades únicas, que são bem interessantes de acompanhar quando estão em duplas ou todos reunidos.

Por exemplo, Barry Allen (Ezra Miller) é o novato que acha tudo incrível, e isso rende ótimas reações cômicas. Seus poderes já foram representados diversas vezes no cinema, com o personagem Mercúrio de X-Men e Vingadores, além da versão do herói para TV. Aqui a habilidade ainda é explorada de modo diferente, usando o recurso de câmera lenta de Zack Snyder com uma maior duração de tempo e ainda mais devagar.

O Aquaman de Jason Momoa é totalmente diferente da versão das animações, onde o personagem era motivo de piada. Ele está badass, marrento e rende ótimas cenas de ação, tanto fora quanto dentro d’água. Inclusive, as submersas são totalmente críveis, tanto na movimentação, como nas lutas, que apesar de lentas, ainda dão impacto.

Ciborgue (Ray Fisher) é o mais contido e centrado do grupo, mas o personagem me surpreendeu positivamente pelos seus poderes. Ele não é uma versão ruim do Homem de Ferro como alguém poderia esperar, já que os dois têm artifícios tecnológicos similares (raios repulsores e propulsores). O personagem evolui constantemente e aprende sobre suas próprias habilidades durante o filme. Sua relação com as caixas maternas também dão uma maior importância a ele.

Mulher-Maravilha (Gal Gadot) está tão incrível quanto em seu filme solo, protagonizando uma das melhores cenas de ação do longa ao som de sua música-tema. A personagem ainda esbanja charme e simpatia. Por outro lado, Batman (Ben Affleck) não está tão bem quanto em Batman v Superman, principalmente pelo excesso de piadas do personagem, que destoam completamente do que vimos anteriormente.

O filme está visivelmente mais leve que outras produções deste universo da DC, que ficaram conhecidas por se levarem a sério demais. Isso não seria um problema se as cenas de alívio cômico fossem melhor dosadas e distribuídas pelo elenco. Por exemplo, já era esperado que Flash fosse o personagem que faz as piadas na equipe, diferente de Bruce Wayne, que ficou parecendo o Tio do Pavê.

A grande ameaça é o vilão Lobo da Estepe, que planeja reunir as caixas maternas para trazer Apokolips à Terra. Mesmo que essa não seja a primeira vez que o vilão tenta fazer isso, suas motivações não são expostas no filme apropriadamente. Neste caso, Liga da Justiça comete o mesmo erro que outras produções do gênero, onde o vilão não tem nada de especial a oferecer, se tornando genérico e sem uma personalidade marcante. Além disso, o Lobo da Estepe não oferece uma ameaça suficiente para reunir a equipe.

Como se não bastasse, o CGI do personagem está no nível de um videogame, tornando-o um dos maiores problemas do filme. O excesso no uso de computação gráfica não está presente apenas no Lobo da Estepe, como também em algumas cenas onde o ambiente destoa completamente dos personagens, tornando-se muito artificial.

Mesmo que Joss Whedon tenha colaborado e regravado diversas cenas do filme, a visão de Zack Snyder ainda está evidente no resultado final. Percebemos o ótimo trabalho de Whedon nas cenas de interação, que chegam a se aproximar do que vimos em Vingadores. Enquanto isso, a maneira de filmar, os enquadramentos, a câmera lenta e o filtro escolhido são típicos de Snyder.

Outro destaque está na trilha sonora do filme, que ajuda a criar maior tensão nos momentos certos, uma identidade sonora para os personagens e deixar as sequências mais vibrantes. As músicas escolhidas também fazem um ótimo trabalho em passar o sentimento adequado às cenas. Um exemplo é “Everybody Knows”, de Leonard Cohen, para representar o luto pela morte de Superman.

Uma das melhores coisas de Liga da Justiça é a volta de Superman. Não vou entrar em detalhes, mas realmente é como se o herói renascesse. A solução pode agradar aqueles que não gostavam da versão apresentada em filmes anteriores, mas ainda deve frustrar alguns fãs pela forma como isso acontece.

Liga da Justiça é um ótimo filme para este universo cinematográfico da DC. Ele apresenta a equipe de forma competente e nos empolga para as futuras produções dos personagens introduzidos. Mesmo cometendo erros, como no vilão ou no tom destoante, ainda é possível aproveitar muitos elementos da produção.

Por se tratar de um filme da Liga da Justiça, é comum que se crie uma expectativa sobre ele. Por outro lado, seus problemas fazem com que o longa não alcance todo o seu potencial. Talvez seja melhor que você assista com expectativas baixas para que se surpreenda. Caso contrário, pode acabar se decepcionando.

Crítica | Liga da Justiça
Liga da Justiça carrega o nome da maior equipe de super-heróis dos quadrinhos nas costas, e isso, por si só já cria uma grande expectativa. É a primeira vez que vemos isso acontecer em um universo compartilhado que ainda não se provou, então é comum vermos problemas. Mesmo assim, o filme é uma ótima experiência pelo que apresenta, como a reunião desses personagens e a volta de uma importante peça.
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