Crítica | Lumière! A Aventura Começa

Escrito por: Gabriel Santos

em 13 de dezembro de 2017

Se você conhece o mínimo sobre a história do cinema, já deve ter ouvido falar dos Irmãos Lumière, a dupla que praticamente criou a sétima arte. Enquanto nas escolas apenas conhecemos seus filmes mais famosos, como A Chegada do Trem à Estação e A Saída dos Operários da Fábrica, em Lumière! A Aventura Começa, o leque é muito maior, explorando todos os gêneros e planos criados pela dupla vanguardista.

O longa é organizado e narrado por Thierry Frémaux, diretor do Festival de Cannes, além de contar com um processo de restauração em 4K (não me perguntem como). De fato, a qualidade dos mais de cem filmes gravados há mais de um século faz com que pareça que foram filmados recentemente, dando destaque a detalhes que antes não eram percebidos e deixando as imagens ainda mais vivas.

Além disso, a ordem escolhida por Frémaux para organizar o filme foi bem pensada, separando o longa por temas que vão desde o amplo cotidiano urbano ao íntimo convívio familiar. Também é importante destacar a narração do diretor, algumas vezes bem humorada, que nos informa sobre o contexto histórico, as pessoas presentes, o como e o porquê de ser filmado daquele jeito, entre outros elementos. Ele faz o mesmo papel de uma câmera no cinema moderno, que direciona nosso olhar para o que é pertinente e, a partir disso, o espectador passa a notar detalhes que poderiam não ser percebidos.

A montagem também nos apresenta a diversidade de lugares filmados pelos Irmãos Lumière e seus operadores, que vão além da França e partem para o mundo todo. Ele é um registro histórico da sociedade da época e nos dão uma boa ideia sobre como viviam aquelas pessoas e o aspecto das construções.

Um caso registrado pelos Lumière é um filme que nos exemplifica a questão do colonialismo. Em uma de suas gravações, feita na Indochina, vemos uma mulher branca jogando arroz para crianças, que as pegam do chão. Em outro exemplo, agora ligado a questão de gênero, está em um plano onde vemos três camadas: a superior com homens passando em seus cavalos, a do meio com homens observando a câmera, e a inferior com lavandeiras trabalhando.

O filme também nos revela que a câmera não era apenas posicionada em um local fixo. Também foram usadas filmagens em movimento, semelhantes ao travelling, além de ângulos variados, como o diagonal, um preferido deles. Este, usado no famoso A Chegada do Trem à Estação, enfatizava a profundidade de campo.

Isso também destaca o primeiro olhar cinematográfico existente na história. Hoje em dia contamos com diversos recursos que auxiliam a produção de um longa, mas na época, as coisas eram muito mais complicadas.  O trabalho dos realizadores não era apenas fixar uma câmera e deixá-la filmando, mas ter total noção do posicionamento e duração, já que os filmes tinham apenas 50 segundos.

Os Irmãos Lumière tinham consciência do que estavam fazendo e já demonstraram a preocupação com o plano em vários momentos de seus filmes. É possível perceber o operador tirando pessoas da frente da câmera ou até mesmo pequenas mudanças de ângulo nas várias versões de A Saída dos Operários da Fábrica.

Além do espaço, o tempo também era algo que precisava de atenção. Pela limitação na duração dos filmes, as ações dos personagens precisavam ser milimetricamente coordenadas, criando histórias com início, meio e fim.

Lumière! A Aventura Começa são muitos filmes dentro de um só. Todos que apreciam a sétima arte deveriam assisti-lo, principalmente pela importância desses realizadores dentro da história do cinema. Sem querer estragar a surpresa, acredite se quiser, mas este longa conta com uma cena pós-créditos. Assim como eu indicaria em qualquer filme da Marvel, vale a pena ficar até o fim.

Crítica | Lumière! A Aventura Começa
Lumière! A Aventura Começa é uma ótima oportunidade para conhecer os principais trabalhos dos pioneiros do cinema. Além da restauração, os comentários de Frémaux tornam sua execução ainda mais rica.
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