Crítica | O Nome da Morte

Escrito por: Gabriel Santos

em 02 de agosto de 2018

impunidade e a ausência de humanidade são alguns dos assuntos mais presentes nos jornais. Diariamente se discute as razões pelas quais uma pessoa decide matar outra. E tudo isso é apresentado no filme O Nome da Morte – uma história baseada em fatos reais e que trata de dilemas morais, que tanto permeiam a nossa sociedade.

O longa, adaptado da obra do jornalista Klester Cavalcanti, conta a história de Júlio Santana, um pistoleiro que começou a matar desde a adolescência. Pai de família, homem caridoso e um orgulho para os pais, ele se tornou um assassino profissional responsável por quase 500 mortes, sendo preso apenas uma única vez.

Chocante do começo ao fim, o filme abre com um ótimo e intenso plano-sequência. O roteiro consegue dar a veracidade que a trama precisa, prendendo a atenção do espectador. Ao longo do filme, a trajetória de Júlio vai ficando cada vez mais sombria. Não só pela quantidade de assassinatos, mas também pela transformação que o personagem sofre a medida que mata. E os motivos de várias dessas execuções mostram que, para muitos, a vida de alguém tem um preço.

Tratando-se de uma história tão violenta, as cenas dos assassinatos mereciam atenção. E o diretor Henrique Goldman soube exatamente como dirigi-las, trazendo brutalidade e bastante realismo em todas elas. São momentos vitais para a construção do impacto que a trama causa em quem assiste. A fotografia também ajuda com um contraste entre a luz das paisagens naturais e a escuridão da cidade, se tornando essencial para o clima dos acontecimentos. E a trilha sonora, acrescentada pelo Ave Maria de uma forma inesperada, entra nos momentos certos deixando as cenas mais eletrizantes.

Alguns dos problemas de O Nome da Morte estão no segundo ato. Nesse ponto, a trama fica arrastada pela falta de equilíbrio entre os assassinatos e a vida de Júlio com a esposa e filho. O filme perde um pouco do rumo, só voltando a ganhar força nas reviravoltas e surpresas do terceiro ato. O roteiro também não explora bem a família do protagonista (pais e irmãos). Eles tem poucas cenas, faltando um desenvolvimento melhor desses personagens. E outro problema são alguns visíveis erros de continuidade, que poderiam ter sido resolvidos.

Em termos de atuações, Marco Pigossi foi uma excelente escolha para ser o protagonista. Ele traz uma interpretação ótima, construindo o Júlio antes de virar pistoleiro e, depois, como se tornou uma pessoa cruel. Usando lentes que deixaram seus olhos pretos, através desse olhar do ator é nítido e assustador acompanhar como o personagem vai perdendo a sua humanidade. E é sensacional ver a diferença desse olhar com a família dele.

Fabiula Nascimento está ótima interpretando Maria, esposa do Júlio. A personagem é uma mulher inocente e ingênua, mas que aos poucos vai sendo desenvolvida e crescendo na história. E nos grandes e dramáticos momentos dela, a atriz se destaca ainda mais com sua atuação.

Santana, tio do protagonista interpretado por André Mattos, é um personagem que causa indignação. Mas o ator traz uma interpretação divertida com piadas que geram boas risadas. Os diálogos dele são ácidos e engraçados ao mesmo tempo. E a participação de Matheus Nachtergaele é muito boa.

Apesar de alguns erros no roteiro e construção, O Nome da Morte é um longa nacional que merece ser conferido. O filme apresenta uma história chocante, cenas intensas e ótimas atuações de seu elenco. O cinema brasileiro está melhorando e crescendo cada vez mais.

Crítica | O Nome da Morte
A força de O Nome da Morte está em sua história real e chocante, sendo contada através de cenas intensas. A fotografia e a trilha sonora são essenciais para a construção da trama. Marco Pigossi está excelente no papel, se mostrando um ator versátil. Destaque também para as atuações de Fabiula Nascimento e André Mattos.
3.5

Compartilhe!