Na última semana, finalmente tivemos o tão esperado lançamento da adaptação live-action de One Piece. A Tomorrow Studios e a Netflix aceitaram um desafio quase impossível: agradar aos fãs apaixonados do mangá/anime enquanto conquistava um público totalmente novo. E, surpreendentemente, eles conseguiram atingir ambos os objetivos.
Primeiramente, devo admitir que minha experiência com a obra se limitou ao Arco Vila Syrup. Quando o anime chegou dublado na Netflix, pensei seria minha chance de acompanhá-lo desde o início, mas o traço da animação, o aspecto antigo e o grande número de episódios me desanimaram de continuar. Pelo menos agora tenho mais uma chance de conhecer a obra. E gostei do que vi.
A série conseguiu capturar a essência do mundo de Eiichiro Oda, trazendo tanto caracterização quanto efeitos visuais que mantêm a atmosfera cartunesca do original. Confesso que a peruca laranja de Nami (Emily Rudd) era algo que me preocupava vendo os materiais promocionais, mas essa e outras decisões de figurino, cabelo e maquiagem fazem sentido dentro do contexto.
O caminho escolhido para a adaptação funciona muito bem, uma vez que a série consegue traduzir com sucesso a ação e o alívio cômico queridos pelos fãs. Uma das escolhas criativas mais interessantes é a utilização da linguagem de painéis de quadrinhos, além de dar bastante destaque para os icônicos cartazes de procurados, recriando-os de maneira estilizada.
Confesso que, inicialmente, não gostei da escalação de Iñaki Godoy como Luffy, pois esperava que o protagonista seria interpretado por um ator brasileiro, de acordo com as raízes do personagem de Oda. No entanto, ao assistir à série, fica evidente que Iñaki possui a energia e confiança necessárias para interpretar um protagonista shonen carismático. A representação dos poderes de Luffy é outro ponto alto, sendo usado de forma criativa e cativante.
Os outros chapéus de palha possuem excelentes introduções, assim como a interação do grupo funciona muito bem, com destaque para a rivalidade entre Zoro (Mackenyu) e Sanji (Taz Skylar). As histórias de origem de cada um, incluindo flashbacks de infância, são bem-vindas e adicionam profundidade aos personagens, assim como ajudam a criar empatia por eles.
Entre os vilões, Mihawk (Steven John Ward) tem uma entrada impactante, destacando-se com sua imponente espada. Buggy (Jeff Ward), o Palhaço, é uma adição divertida e carismática, com um episódio envolvente que incorpora elementos de circo de forma inteligente. Já um ponto negativo da série como um todo é o arco de Usopp (Jacob Romero), onde senti um problema de ritmo que prejudicou o andamento da narrativa. Isso acontece, principalmente, porque são episódios que se passam quase totalmente em apenas uma locação e possui os piores coadjuvantes da série.
O live-action faz um trabalho admirável ao mostrar constantemente que Luffy é um pirata diferente, desafiando o estereótipo de vilões. Além disso, explorar o outro lado da história, com a Marinha e Koby (Morgan Davies), revela as camadas cinzentas do mundo de One Piece. Temos piratas que trabalham para a Marinha, a corrupção dentro da instituição, assim como a demonstração que nem todos os piratas são maus e nem todos os membros da Marinha são vilões. O mesmo pode ser dito sobre a abordagem do preconceito contra os Homens-Peixe, que é igualmente interessante e relevante.
No geral, a primeira temporada de One Piece na Netflix é uma adaptação ambiciosa do arco East Blue, recriando momentos emocionantes e mantendo a fidelidade à obra de Oda. Apesar de não ter sido confirmado pela plataforma, acredito que é apenas questão de tempo que a série seja renovada, levando em conta os recordes que estão sendo atingidos. Entre eles, 18,5 milhões de visualizações nos primeiros quatro dias de estreia e o primeiro lugar no ranking de séries mais assistidas em 84 países. Fico curioso sobre como vão adaptar os próximos arcos, levando em conta que ainda tem muita coisa maluca pra acontecer e a quantidade gigantesca de material.