Crítica | Podres de Ricos

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 25 de outubro de 2018

Nos últimos anos, as comédias românticas vinham perdendo muito de seu prestígio e sumindo do mercado, por conta da grande queda do gênero nas bilheterias. Mas também pela maioria trazer tramas repetidas e que não dialogam com as mudanças da sociedade, em termos de relacionamentos. Assim, assistindo Podres de Ricos é possível entender porque esse filme fez tanto sucesso no mercado americano. Com um roteiro adaptado do livro Asiáticos Podres de Ricos, de Kevin Kwan, o longa consegue se destacar e inovar ao mostrar uma trama moderna e que brinca com os clichês do gênero e de Hollywood.

Na trama, Rachel Chu (Constance Wu) é uma jovem professora que namora com Nick Young (Henry Golding) há algum tempo. O que Nick não contou para Rachel é que ele é herdeiro de uma fortuna e um dos solteiros mais cobiçados de Singapura. Então, quando ele a convida para ir ao casamento do melhor amigo, na cidade asiática, Rachel vai entrar na mira de outras candidatas e da mãe de Nick, que tem problemas com relação ao namoro.

Desde a primeira cena, Podres de Ricos revela as críticas sociais que pretende fazer. A importante representatividade, ao trazer um elenco totalmente asiático, não é o único mérito desse longa. O povo da Ásia não é estereotipado em momento algum, o que se mostra um grande acerto na forma de abordagem. Ao invés disso, os personagens são uma sátira ao american way of life. Todos são reflexos de uma vida de luxo que mais a fundo apresenta defeitos emocionais. Além disso, inverte também a maneira como a maioria dos filmes desenvolve as relações amorosas.

Por trazer uma narrativa que fala de muita riqueza e ostentação, consequentemente tudo será neste nível. É um filme super luxuoso. O figurino, por exemplo, traz bastante elegância com uma grande variedade de cores e tons. As locações e os objetos são impressionantes, como se tivessem saído das revistas de hotéis e viagens. É um trabalho belíssimo de se ver na tela do cinema, incluindo a bela fotografia e estilosa trilha sonora.

Pode-se dizer que a história é um “conto de fadas invertido”. Muitas das atitudes que na nossa sociedade culturalmente vêm dos homens, aqui partem das mulheres – reforçando o diálogo com as mudanças de comportamento. Rachel é uma personagem inteligente e retratada da melhor forma. Mesmo assustada com o mundo de riquezas que não conhecia, aos poucos ela toma a frente para que aquilo não a afete. Dessa forma, o empoderamento feminino é inserido de forma natural dentro do roteiro, inclusive no excelente arco de Astrid (Gemma Chan) – que em uma linha de diálogo, a personagem diz tudo o que muitas mulheres gostariam de dizer, mas hesitam por conta do julgamento social.

A direção de Jon M. Chu é muito eficiente. O roteiro também tem um pouco de A Sogra, entrando em um âmbito mais clichê. Apesar de ter elementos que distanciam da realidade, eles são dentro do contexto criado. As tradições familiares são colocadas em questão, porém fica em aberto e sem grandes julgamentos sobre se devem ser seguidas ou não. Vemos que a cultura asiática é muito pautada por essas tradições, pela maneira como é apresentada. Nesse ponto, em uma das cenas de Rachel e Eleanor (Michelle Yeoh), surgem boas críticas sobre família e qual a melhor forma de se viver.

Constance Wu e Henry Golding possuem bastante química, resultando em um casal carismático e que nos faz torcer pela união. Wu tem um sorriso que realmente cativa, mostrando-se perfeita para o papel. Ela parece uma mistura de princesas como Cinderela e Anna de FrozenGolding, que recentemente fez sucesso em Um Pequeno Favor, também está ótimo, funcionando como uma espécie de príncipe dentro do contexto. Mas é aquele que age, e não simplesmente aceita tudo que ouve ou acontece ao seu redor.

O elenco inteiro é maravilhoso. Destaque para Awkwafina, que está hilária interpretando Peik. Ela fez uma das personagens principais de Oito Mulheres e Um Segredo, e novamente demonstra seu talento com um incrível timing cômico. Elogios também para Michelle Yeoh, Pierra Png e Tan Kheng Hua. As participações especiais de Nico Santos e Ken Jeong também são divertidas.

Podres de Ricos é uma comédia romântica moderna e deliciosa de se assistir. Divertida, cheia de bom humor e com ótimas críticas sociais, que com certeza são abordagens interessantes e inovadoras para o gênero. Não saia antes da cena pós-créditos – que tem relação com a história de um dos personagens.

Crítica | Podres de Ricos
Podres de Ricos é uma comédia romântica moderna e deliciosa de se assistir. Divertida, luxuosa, cheia de bom humor e com ótimas críticas sociais, apresentando abordagens interessantes e inovadoras para o gênero. Constance Wu e Henry Golding são um casal protagonista com muita química. O elenco inteiro está ótimo, com destaque para Awkwafina, Gemma Chan e as participações de Nico Santos e Ken Jeong.
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