Em 2020, a Netflix tentou emplacar uma nova franquia de ação com Chris Hemsworth a partir do longa Resgate. Na época, a produção se destacou pelas excelentes cenas de ação, incluindo planos sequência complicados, além de apresentar um valor de produção no nível de grandes blockbusters para os cinemas. Agora, em 2023, a continuação chegou junto com o evento Tudum. O projeto é dirigido por Sam Hargrave, que mais uma vez usa sua experiência como coordenador de dublês para entregar sequências impressionantes, elevando o nível do seu antecessor.
Desta vez, o longa começa exatamente de onde o último parou, respondendo a pergunta que todos queríamos uma resposta: como o mercenário Tyler Rake (Chris Hemsworth) sobreviveu? A produção leva bastante tempo para retratar sua recuperação tanto física quanto psicológica até apresentá-lo a uma nova missão: resgatar a família de um gângster georgiano da prisão e levá-los em segurança até a Austrália.
É interessante ver que nessa segunda parte a franquia começa a encontrar sua própria identidade e, definitivamente, os planos sequência de tirar o fôlego vem sendo uma das suas marcas registradas. Agora, tivemos uma cena de fuga da prisão sem cortes que dura mais de 20 minutos, sendo bem sucedida em colocar o público imerso dentro da ação. É impressionante como a câmera se movimenta por lugares complicados, em cenários enormes, com muitos personagens e coreografias complexas. Uma das coisas que mais me chamou atenção é que este recurso não existe apenas para mostrar para onde os personagens estão indo e suas ações, como também suas intenções.
Se as cenas eletrizantes são o ponto alto do longa, também preciso destacar aqui os pontos baixos. Enquanto no primeiro filme tivemos um David Harbour sem tempo de tela para ser desenvolvido, o mesmo acontece com Idris Elba na continuação, já que seu personagem serve apenas para explicar coisas, o que é um verdadeiro despedício.
Sobre a família georgiana, há alguns elementos que a deixa mais interessante, como a relação dela com Tyler, o papel da mãe como alguém que aguentou muita coisa e faz de tudo para ficar com os filhos e, principalmente, o filho Sandro dividido entre o que é certo e errado, criando várias camadas para o personagem. Outro ponto que vale ressaltar é a humanização do protagonista a partir do relacionamento com o filho. Por outro lado, tenho que dizer que Mia (Olga Kurylenko) funciona mais como um recurso narrativo para impulsionar a história e servir de escada para o protagonista do que uma personagem feita para nos importarmos.
De maneira geral, o roteiro apresenta uma trama rasa e genérica, que não foge muito do que normalmente vemos em filmes do gênero. Já o alívio cômico é muito mal encaixado, chegando a causar incômodo. Todos os personagens parecem ser irônicos e engraçadinhos, mesmo que isso não combine com suas personalidades. O desfecho acaba sendo um tanto quanto anticlimático, falhando em transmitir a sensação de um fim satisfatório, ficando mais preocupado em estabelecer um gancho para uma possível sequência.