Crítica | Se a Rua Beale Falasse

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 05 de fevereiro de 2019

Os trabalhos de Barry Jenkins possuem uma carga sentimental muito forte. Em Moonlight: Sob a Luz do Luar (2017), ele lida ao máximo com as emoções de um jovem passando pela autodescoberta e aceitação, ao mesmo tempo que aborda temas atemporais. Jenkins coloca bastante dele em suas obras, e o resultado é muito autêntico. Não à toa, lhe rendeu o Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.

Em Se A Rua Beale Falasse não é diferente. A raiz cinematográfica do diretor continua presente, tanto na estética setentista quanto na sensibilidade com os personagens. Jenkins se apropria da história contada no livro de James Baldwin, sobre os desafios de um casal negro nos anos 70, para trazer temas como respeito, racismo e tolerância. Ele consegue equilibrar tudo isso, inserindo esses assuntos como fatores decisivos para a possibilidade do romance acontecer. Porém, a proposta é muito mais profunda pois, acima de tudo, esse é um filme que fala sobre amor – em todos os sentidos.

Tish (Kiki Layne) e Fonny (Stephan James) são jovens e têm uma relação cheia de carinho e ternura. A cena da primeira vez tem um clima de romantismo e delicadeza, tornando o casal extremamente carismático aos olhos do público. Muito disso também se deve a intensidade com que Layne e James interpretam seus personagens, nos fazendo acreditar e torcer por aquele romance que precisa ultrapassar barreiras. E todas as vezes que o peso do preconceito os atinge, o roteiro de Jenkins trata de evidenciar que as relações humanas envolvem o nosso sentimento de empatia com o próximo.

Quando Tish revela para a família de Fonny que está grávida (uma das cenas mais intensas do longa), as reações da mãe e das irmãs dele mostram o quanto falta afeto naquelas pessoas. Em contrapartida, todo essa afeição é incorporada em Sharon, mãe de Tish, vivida impecavelmente por Regina King. A figura dela é a representação perfeita de como devemos agir com o outro. Sabendo das dificuldades que a filha passará com um bebê, ainda mais com o pai preso, Sharon traz toda a sua força para ajudá-la nesse momento, além de ver todos os lados da situação. O mesmo pode se dizer das atitudes da irmã Ernestine (Teyonah Parris) e do pai Joseph (Colman Domingo). Vale também destacar o personagem de Dave Franco. Apesar de ser apenas uma participação pontual, o discurso dele é muito simbólico, carregando toda a questão principal do filme.

Na escolha dos close-ups, nota-se como Jenkins consegue nos tornar íntimos daqueles personagens, simultaneamente focando nas interpretações dos atores. A narrativa não linear, embalada pela emblemática música de Nicholas Britell, intercala perfeitamente entre o presente e a construção da relação entre os protagonistas. A utilização do jazz, seja de forma romântica ou tensa, trabalha em harmonia com toda a proposta. Também é interessante perceber como ele vai diminuindo ou é cortado quando há uma mudança de tom nos diálogos. Um trabalho técnico feito precisamente para que a emoção dessa história fosse absorvida, proporcionando uma obra sensorial e belíssima.

Se A Rua Beale Falasse traz questões que o tornam um filme tocante, socialmente relevante e universal. Barry Jenkins, mais uma vez, acerta em sua visão única sobre indivíduos, em um dos melhores dramas do cinema – com merecidas 3 indicações ao Oscar. A mensagem é simples e verdadeira: a base de tudo na vida é o amor.

Crítica | Se a Rua Beale Falasse
Barry Jenkins traz mais uma obra emocionante e que aborda temas atemporais. Através de uma estética setentista e um olhar sensível sobre indivíduos, o diretor consegue narrar um dramático romance clássico entre jovens, com muita delicadeza e significados universais. Um filme que fala de amor – em todos os sentidos.
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