Crítica | Todo Dia

Escrito por: Gabriel Santos

em 12 de julho de 2018

Não é de hoje que os romances adolescentes se tornaram populares entre as produções de Hollywood. As Vantagens de Ser Invisível, A Culpa é das Estrelas e o recente Com Amor, Simon são alguns dos exemplos, e o mais novo representante do gênero é Todo Dia, dirigido por Michael Sucsy (Para Sempre).

O longa é uma adaptação do best-seller de mesmo nome escrito por David Levithan. A história é protagonizada por Rhiannon (Angourie Rice), uma garota de 16 anos que vive um relacionamento frio com seu namorado, Justin (Justice Smith). Durante um dia ele se comporta como outra pessoa, depois de ser tomado por uma alma chamada “A”, que acorda em um corpo diferente todos os dias.

Apenas pela sinopse já podemos notar que este não é um romance comum. O elemento mais interessante e curioso da trama é essa entidade chamada “A”, que conta com uma dinâmica interessante e muito bem explorada no filme. Entre seus hospedeiros, estão todos os tipos de pessoas, com vidas completamente diferentes.

Com isso, o filme tenta passar a mensagem de que não importa quem você é por fora, mas sim seu interior, assim como acontece com “A”. Além disso, ele parte da proposta de se colocar no lugar dos outros, mostrando como é viver na pele de alguém por um dia, literalmente.

Além da crise existencial, entre os questionamentos trazidos por esse personagem misterioso estão a dificuldade de se apaixonar nestas condições, viver uma vida normal, além do quanto pode influenciar as ações de outras pessoas. Enquanto no livro temos uma história com subtramas mais elaboradas e contada do ponto de vista de “A”, o filme decidiu ter como recorte o romance entre o casal principal, apresentando também a perspectiva de Rhiannon.

Outra diferença em relação a obra original é uma atualização dos meios de comunicação para algo mais prático e visualmente mais interessante. Enquanto no livro temos os protagonistas sempre conversando através de e-mails, no filme temos a presença de mensagens de texto, muitas vezes expostas na própria tela.

Um dos principais desafios desta produção era justamente escolher os atores que viveriam “A”, pois precisaria haver uma coesão interpretativa, já que são diversas pessoas dando vida ao mesmo personagem. O filme se sai muito bem nesta questão, com um elenco diversificado convincente incluindo Lucas Jade Zumann, Owen Teague, Justice Smith, entre as dezenas de participações especiais.

O destaque fica para Justice Smith, que apresenta uma mudança abrupta de personalidade quando “A” deixa o corpo de Justin. Enquanto em um primeiro momento temos um namorado carinhoso e atencioso, do outro temos uma pessoa antipática e arrogante. Algo semelhante acontece com o personagem de Zumann, mas que acaba não sendo tão desenvolvido se compararmos à versão do livro.

Os enquadramentos também evidenciam a interpretação dos atores, sempre optando por planos fechados do rosto e desfocando o fundo para destacar nuances das expressões faciais. Aqui elas fazem toda a diferença por termos atores interpretando mais de um personagem.

Outro ponto positivo se encontra no ambiente adolescente criado a partir da escolha de elenco jovem, das locações, além da trilha sonora composta por Elliott Wheeler. Esse conjunto capta uma atmosfera agradável que consegue cativar o público.

Levando em conta uma proposta tão complexa em relação a outras produções do gênero, o filme acaba enfrentando algumas dificuldades para explicar os conceitos e regras da habitação de corpos vivida por “A”. Mesmo que os elementos já fiquem claros, em muitas vezes há redundância dos fatos, assim como diálogos expositivos que poderiam ser evitados. Por conta disso, o longa peca em dizer mais do que poderia mostrar.

Todo Dia conta com um roteiro intrigante e que estimula a curiosidade do público, apesar de haver algumas facilitações na trama e ações inconstantes dos personagens. Mesmo assim, ele apresenta muito mais do que um romance adolescente tem a oferecer, agradando aos fãs do gênero e podendo ser uma boa surpresa aos que procuram algo instigante.

Crítica | Todo Dia
Todo Dia se destaca de outras obras do gênero por apresentar uma trama intrigante, atuações convincentes, além de conseguir emocionar o público.
3.5

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