Em Guerra Infinita, quando Thanos (Josh Brolin) conseguiu juntar as Joias do Infinito e impor a sua vontade ao universo, o público se deparou com um dos “finais” mais impactantes da história do cinema. Diante de tal circunstância, a pergunta principal era: como os heróis vão resolver a situação em Vingadores: Ultimato? Assim, observa-se no trabalho dos diretores Joe e Anthony Russo não só uma ótima resposta para a pergunta, como também um desfecho coerente da história que construíram em 2018, e um encerramento digno para esses 11 anos do Universo Cinematográfico Marvel. Mais do que um filme de super-heróis, Ultimato é uma carta de amor aos fãs – para os amantes dos quadrinhos, que vão se divertir muito aqui, mas, principalmente, para o público que acompanha esses personagens há tanto tempo, desde Homem de Ferro (2008).
Se a primeira parte foi sobre Thanos e suas motivações, esta fala dos Vingadores e seus desafios. Com o vilão vencendo, encontramos os heróis completamente desolados. Desde o começo sente-se o impacto dos acontecimentos, e esse tom se permeia por grande parte do filme. Tanto que, em várias cenas, Ultimato parece se tratar de um drama, surpreendendo na maneira como os heróis são desenvolvidos. No primeiro ato, não temos o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) fazendo piadas a todo momento, Capitão América (Chris Evans) acreditando em uma solução ou Thor (Chris Hemsworth) demonstrando todo o seu poder. A essência deles está ali, só que a proposta dos roteiristas Stephen McFeely e Christopher Markus é destacar o peso das consequências de tudo pelo que eles passaram, sem excluir o humor característico – inserida, mais uma vez, de forma equilibrada.
Isso acaba tornando a história emocional e humana, onde o clima apocalíptico é sentido intensamente pelo espectador e pelos próprios personagens. E essa escolha não se dá somente pelo fato do longa ser o fechamento de um ciclo, mas também por querer concentrar a trama na equipe original – que inclui Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner).
Durante todas as participações, cada um deles teve uma trajetória diferente, mas com uma questão em comum: família. Os seis integrantes compartilhavam desse mesmo sentimento, sendo o grande elo que os uniam. É nesse ponto que a história mais se aprofunda, tornando os arcos desses heróis individualmente compreensíveis e emocionalmente conectados. Fica fácil de entender as decisões do Tony Stark, pois ouvindo seus discursos lembra-se o que ele já perdeu, e vemos o que pode perder. Apesar do Gavião e da Viúva não serem tão bem aproveitados como deveriam, a dupla ganha uma linha narrativa que condiz com a amizade e a parceria de tantos anos. Já o Hulk recebe uma abordagem inesperada, fazendo referência direta às HQs.
Quando o longa entra no segundo ato, os Vingadores partem para a missão, trazendo o tom de aventura. Nesse ponto, percebemos a criatividade em retratar fatos passados ou filmes anteriores (Os Vingadores e Guardiões da Galáxia, por exemplo) através de novas e diferentes perspectivas. São questões com infinitas possibilidades, retratadas em detalhes e mais fielmente possível com o que havia sido apresentado – agradando desde o público assíduo, até os que só assistiram a determinados projetos. E nesse misto emocional, McFeely e Markus acrescentam mais consistência aos arcos de Tony, Steve e Thor, mostrando que o roteiro não quer apenas presentear os fãs, como também desenvolver seus protagonistas.
Mesmo que o foco nos seis principais seja um dos grandes acertos, é nele que reside alguns problemas de Ultimato. Se em Guerra Infinita os Irmãos Russo conseguiram equilibrar, quase que de forma perfeita, os inúmeros heróis, aqui eles não possuem a mesma eficiência. A ideia de dividi-los em equipes se manifesta novamente, porém é perceptível o quanto alguns são mais beneficiados que outros – destaque para Nebulosa (Karen Gillan), que ganha um desenvolvimento excepcional. Ao longo da projeção, o esquecimento por determinados personagens é quase que instantâneo, pois o tempo de tela não é suficiente para mostrar a importância deles. Mesmo que alguns heróis deem seguimento ao universo de filmes, o longa necessitava de uma decisão bem acertada, que até melhoraria o ritmo do segundo ato. Entretanto, esse é um ponto fora da curva. A história tem sim sua fluidez, fazendo as quase 3 horas de duração serem uma experiência deliciosa, que passa em um estalar de dedos.
Engana-se quem achou que os trailers e prévias mostraram demais. A Marvel Studios aprendeu a trabalhar no seu marketing, guardando praticamente todo o filme só para a sala de cinema. É um roteiro com soluções imprevisíveis e algumas até simples, destruindo teorias e construindo tudo aos poucos para, no ato final, atingir o seu ápice, apresentando uma bela homenagem para os fãs. Ultimato traz ainda uma tonelada de participações especiais, easter-eggs e referências, principalmente com relação a outros longas do Universo Marvel. Quando o filme faz referência direta a De Volta Para O Futuro (1985) ou lembra detalhes de Interestelar (2014), não se trata de apenas fan service. E sim, de uma escolha necessária para que todos ganhem um filme de proporções gigantescas, com um roteiro que honre o legado de seus heróis.
Quando chega ao fim, Vingadores: Ultimato mistura risos, sorrisos, lágrimas e muita emoção. As decisões corajosas que foram tomadas parecem definitivas, terminando a chamada Saga do Infinito com louvor. Apesar dos problemas, é uma aventura ambiciosa, emocionante e com momentos impressionantes, marcando a história do cinema e dos blockbusters. Uma verdadeira celebração dos 11 anos e 22 filmes do MCU – e que venham os próximos!