Crítica | (Des)encanto – 1ª Temporada

Escrito por: Gabriel Santos

em 12 de setembro de 2018

Matt Groening ficou mundialmente conhecido como a mente por trás de Os Simpsons, o sucesso que está há quase 30 anos sendo exibido na televisão. Depois de demonstrar competência com uma história situada nos tempos atuais e de comandar a série animada Futurama, nada mais justo que agora ele mostre sua visão sobre a Idade Média, com direito a princesas, elfos e fadas prostitutas.

Ambientada na Terra dos Sonhos, Desencanto – a nova animação original da Netflix – é estrelada pela princesa bêbada Bean, seu demônio pessoal Luci e um elfo que curiosamente se chama Elfo. A trama da primeira temporada é centrada na busca pelo Elixir da Vida, que tem como ingrediente o sangue de um elfo, tornando o personagem fundamental para a trama.

Presente em outras produções de Groening, a animação conta com diversas críticas sociais através de seus personagens com caracteres duvidosos. Entre elas estão temas como preconceito, feminismo e a cultura da Idade Média, que inclui mortes e torturas. O mais divertido disso é refletirmos sobre essas questões, que antes eram consideradas normais, com uma visão mais moderna.

Outro ponto positivo está nas diversas brincadeiras que o autor faz com os contos de fadas, partindo do pressuposto que seu público já os conhece. A animação traz uma olhar mais realista sobre aquela época, além de desconstruir a imagem que temos de alguns arquétipos, como os príncipes encantados. Neste caso, o resultado lembra o que foi feito na franquia Shrek.

Assim como Homer e Bender, Bean também é uma alcoólatra, mas aqui as coisas ficam ainda mais interessantes por ela ser uma princesa, neste caso, nada convencional. A série carrega, através da personagem, discursos feministas e do empoderamento das mulheres, o que se torna ainda mais forte em uma sociedade com um rígido patriarcado e casamentos arranjados.

Luci consegue surpreender pela forma como foi pensado, não sendo apenas um personagem mal pelo fato de ser um demônio. A série centra nele todos os comentários irônicos e de humor ácido, além de se autodefinir brilhantemente como “o cara que faz você se sentir bem fazendo coisas ruins“. Como contraponto temos Elfo, que está cansado de uma vida onde só existe felicidade e procura por outros sentimentos na Terra dos Sonhos.

Além dos traços característicos e do humor que já conhecemos de Os Simpsons e Futurama, outro elemento fundamental usado como artifício para a comédia é a dublagem brasileira. Entre as pérolas temos bordões do seriado Chaves, letras de músicas brasileiras, assim como dezenas de memes da internet, como “Tá pegando fogo, bicho” e “Morre, diabo”. O mais legal é que eles não são forçados, mantendo o sentido e deixando as cenas ainda mais engraçadas. Além disso, é esperado que essas frases estejam inseridas na cultura pop por já estarem presentes em nosso cotidiano.

Enquanto temos um excelente episódio piloto que funciona como uma introdução dos três protagonistas, a série aproveita o decorrer da trama para conhecermos seu mundo de fantasia e explorar a amizade entre os personagens. Porém, o ponto alto está na season finale, onde vemos todo o potencial para transformar o que poderia ser uma simples comédia de fantasia em uma trama envolvente com reviravoltas, traições e busca por poder.

Apesar de já termos uma expectativa sobre a série levando em conta trabalhos semelhantes de seu criador, ainda é possível se surpreender e se divertir, superando as expectativas. Desencanto certamente é um acerto da Netflix, trazendo mais uma animação irreverente para seu catálogo, ao lado de Rick and MortyFinal Space e Bojack Horseman.

Crítica | (Des)encanto – 1ª Temporada
Trazendo um humor já conhecido de outras obras de Matt Groening, Desencanto conta com um rico universo de fantasia e críticas sociais.
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