O Doutrinador | Cobertura da Pré-estreia + Entrevistas com a equipe do filme

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 30 de outubro de 2018

Diante de tantos super-heróis invadindo às telas dos cinemas, chega em 1º de novembro a adaptação de uma HQ nacionalO Doutrinador, do autor Luciano Cunha. Com direção de Gustavo Bonafé (Legalize Já – Amizade Nunca Morre), a trama conta a história de Miguel (Kiko Pissolato), um agente traumatizado por uma tragédia pessoal que decide fazer justiça com as próprias mãos. Assim, ele se torna O Doutrinador – um vigilante mascarado com o objetivo de acabar com a impunidade, que permite que os políticos enriqueçam às custas da miséria e do trabalho da população.

Nossa equipe participou da pré-estreia do filme, que aconteceu na segunda-feira (22) no Kinoplex do Shopping Rio Sul. O evento teve a presença do elenco, do criador da HQ e do diretor.

Conversamos com o protagonista Kiko Pissolato e perguntamos se ele considera o Doutrinador um herói brasileiro:

“Vamos entrar numa questão filosófica do que seria um herói e um anti-herói. Para mim, o herói brasileiro é o sujeito que acorda de manhã, vai trabalhar, enfrenta todas as dificuldades do dia a dia e tem que sustentar sua família como eu. Vivo de teatro, sou um artista e tenho dois filhos tendo que ralar todo dia pra pagar aquilo que o governo não consegue me oferecer. Não consegue me oferecer saúde e educação de qualidade, e eu tenho que pagar por tudo isso… Então esse é o herói nacional pra mim. E o Miguel é um herói nacional. Um cara que trabalha, que acredita na justiça, que vai atrás dos seus ideais. Mas ele vê o sistema falir, cair em torno dele. Isso provoca nele uma revolta, que é provocada em você, em mim, todo mundo, todo dia.”

O ator ainda falou sobre como a atitude de Miguel deve ser analisada com cuidado pelo público: “Eu acredito que ele é um anti-herói. Porque aquilo que vemos ele fazer é a limpeza da corrupção, do negativismo na nossa vida, de uma maneira muito mais ampla do que essa palavra pode representar. Mas que a gente não tem esse controle porque ninguém é Deus, então não é uma atitude que a gente deva levar ao extremo. E ele leva, e por isso ele é um anti-herói e não um herói. Mas a catarse que ele vai provocar no cinema, nas pessoas, é quase como se fosse uma terapia. E esse é o sentido da arte, é isso que acredito. O Doutrinador vai provocar sensações e aí cada um decide como vai absorver.”

Pissolato ainda nos contou sobre suas influências, revelando também que a ideia é criar um universo de filmes como feito pela Marvel Studios:

“Minhas referências foram Batman, Justiceiro, Watchmen e todos os filmes do Charlie Bronson, Van Damme… Acho a trilogia do Nolan com o Batman fabulosa. E acho que a DC ganha aí da Marvel em anos-luz, mas esse universo todo criado pela Marvel é fabuloso. Por exemplo, já vi ‘Guardiões da Galáxia’ umas 500 vezes e continuo achando maravilhoso. Então a nossa expectativa é essa, de que O Doutrinador seja uma abertura de possibilidades para um universo imenso de cartunistas com a qualidade que a gente tem no Brasil. De pessoas com muita criatividade e muito potencial. Tomara que seja apenas o primeiro filme de um panteão.”

“Para um diretor é um prato cheio, né?”, disse Bonafé, ao perguntarmos sobre como foi adaptar uma HQ brasileira para os cinemas. “Foi muito divertido na verdade. Primeiro porque pelo fato de ser uma HQ, isso já te permite brincar muito mais com cor, fotografia, direção de arte e enquadramento. A gente entrou na ideia de criar um mundo pra esse super-herói e tirar um pouco ele da realidade brasileira, justamente porque a gente não tem esse hábito de pegar heróis. Pensamos: ‘Se a gente inserir um super-herói no Brasil, que todo mundo conhece, talvez as pessoas não comprem ele ou talvez vamos acabar fazendo um filme mais parecido com Tropa de Elite, um filme que seja mais realista’. E não era essa a ideia. O Doutrinador é um anti-herói, tem uma magia em volta dele. Então tentamos trazer um Brasil ‘diferente’, onde o Doutrinador viveria.”

Com tantas discussões atuais sobre corrupção, e pelo filme estrear em época de eleições presidenciais, perguntamos como o personagem se relaciona com tudo isso que vêm acontecendo:

“O Doutrinador é uma alegoria, certo? Então temos que tomar muito cuidado quando a gente fizer uma relação de um anti-herói ou de um super-herói com o mundo real. Esse personagem nasce de um desejo das pessoas, dos leitores e da cabeça do Luciano de criar um anti-herói que de alguma forma perdeu a paciência ou sofreu um trauma, e resolveu aniquilar a corrupção com as próprias mãos. Estamos realizando uma fantasia. Então acho que é difícil a gente associar as duas coisas. Mesmo. Acho que talvez a única semelhança é que os vilões do ‘planeta’ do Doutrinador são políticos corruptos. E eu acho que na nossa realidade a gente tá vendo que existem muitos deles no Brasil.”

O criador nos contou todo o processo de publicação da HQ e da chegada do projeto, citando as dificuldades que enfrentou pela história tratar de política:

“A HQ foi criada em 2008 e depois eu mandei pra várias editoras em 2010, aqui no Brasil. Aí todas elas recusaram o projeto, não por ser ruim, mas porque tinham medo de que sofressem processos por parte dos políticos que estavam ali retratados. Arquivei o projeto e só em 2013 retomei, colocando uma máscara no personagem e tornando-o mais violento e sombrio. Assim, o personagem foi ganhando muita audiência e chamou a atenção de produtores e diretores de cinema.

Foi aí que começou esse namoro. Conheci o Gabriel Wainer, que é meu sócio na Guará Entretenimento – uma empresa que a gente acabou criando por causa desse processo todo. E a gente apresentou o projeto pra Downtown Filmes. Saiu do papel para um projeto maior, onde queremos que seja um marco no cinema brasileiro com essa pegada pop e geek. Não algo novo, mas marcar o início da valorização de um gênero diferente no Brasil. Inaugurar, vamos dizer assim, uma nova imagem junto ao público do cinema brasileiro.”

Cunha ainda explicou que o orçamento foi a maior dificuldade da produção: “Ao fazermos uma adaptação de quadrinhos com o público, claro, acostumado às produções de Marvel, DC e produções hollywoodianas, nos vemos no desafio de colocar em tela algo mais verossímil possível. Principalmente dentro do que temos de grana e dentro do universo e do nosso cenário. Então a maior dificuldade foi essa, adequar tudo. Por exemplo: para as cenas de ação, com parkour, o Kiko Pissolato teve aulas de tiro e de luta durante seis meses. Toda essa produção foi feita com muita coragem e trabalho, onde a Downtown Filmes e a Paris Filmes conseguiram erguer isso e tirar do papel pra colocar no cinema.”

Abaixo, você confere a equipe agradecendo à todos pela realização e por prestigiarem o longa, além de fotos da pré:

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