Crítica | Chacrinha: O Velho Guerreiro

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 07 de novembro de 2018

Nos anos 80, o Cassino do Chacrinha foi um dos programas de maior sucesso da televisão brasileira. Animado e sempre com diferentes figurinos, o apresentador se tornou um ícone da época. Em 2017, ano em que completaria 100 anos (caso estivesse vivo), a TV Globo o homenageou com um especial aos moldes do programa original. Agora, chega aos cinemas Chacrinha: O Velho Guerreiro, com o intuito de contar a história por trás desse ícone.

O longa acompanha a trajetória de José Abelardo Barbosa, o Chacrinha, desde o momento em que larga a faculdade de medicina para se aventurar em seu primeiro “bico” como locutor de rádio, até se transformar no apresentador mais conhecido do Brasil. Assim, por se tratar de uma cinebiografia, espera-se que exista um aprofundamento sobre como era a vida dele fora das câmeras.

No caso de Chacrinha: O Velho Guerreiro, o foco é muito mais na figura criada por Abelardo Barbosa do que na pessoa em si. Enquanto a sua juventude é bem construída e mostrada em detalhes pela boa interpretação de Eduardo Sterblich, na fase adulta acontece o contrário: existem poucas cenas que realmente retratem a personalidade dele. Assistimos muito mais ele nos palcos do que na vida pessoal e familiar, ficando difícil distinguir a pessoa do personagem.

Dessa forma, a montagem e o roteiro se tornam problemáticos nessa fase. Como existe uma certa urgência em mostrar as cenas do programa televisivo, os momentos não relacionados a isso ficam fora de tom e sem o devido desenvolvimento, deixando o filme sem fluidez. As relações entre os personagens se constroem e desconstroem muito rápido na narrativa – algumas praticamente de uma cena para a outra. Era necessário também mostrar a passagem dos anos, para se ter uma melhor compreensão dos acontecimentos e da mudança abrupta das atitudes de alguns desses personagens.

Já em aspectos técnicos e interpretativos, o longa se destaca muito. A reconstrução da época é rica em detalhes, nos fazendo mergulhar no clima dos anos 80. Ambientação, figurino e todo o cenário recriado do Cassino do Chacrinha ficou praticamente idêntico ao original. Um trabalho primoroso da equipe.

Stepan Nercessian incorpora totalmente o Chacrinha. Apesar de muitos já terem visto a sua interpretação no especial da TV, ele consegue mostrar mais do seu talento em interpretar o apresentador. Seus trocadilhos e piadas tem o timing perfeito para fazer o público dar boas risadas. O elenco todo está bem, com merecido destaque para Laila Garin – que está com uma ótima caracterização e traz uma interpretação incrível, inclusive vocalmente, na pele da cantora Clara Nunes.

Chacrinha: O Velho Guerreiro tem seus momentos e bom elenco, mas parece uma versão estendida do especial exibido na televisão, por não aprofundar a história de Abelardo Barbosa. Problemas no desenvolvimento também prejudicam o resultado, mas o longa consegue ser divertido e mostrar a importância do apresentador para a época e na revelação de várias personalidades que fazem sucesso até hoje.

Crítica | Chacrinha: O Velho Guerreiro
Apesar de divertir e trazer um bom elenco e ótima reconstrução dos anos 80, Chacrinha: O Velho Guerreiro não consegue aprofundar verdadeiramente a história de Abelardo Barbosa, prejudicando o seu resultado como cinebiografia.
3

Compartilhe!