Crítica | Game of Thrones: Temporada 8 – Episódio 6 (Series Finale)

Escrito por: Jose Gabriel Fernandes

em 20 de maio de 2019

Um close do Tyrion devastado abre o episódio, e um Tyrion devastado define o episódio. Tudo começa em torno das consequências do massacre promovido por Daenerys. Os escombros e os poucos sobreviventes, que aparecem nos fundos, falam o suficiente. A Mão da Rainha resolve ir atrás de seus irmãos, e Jon Snow, aparentemente sem graça, oferece alguns guardas para acompanhá-lo. “Não é seguro”, ele diz. Mas Tyrion já não se importa mais – ele não tem mais nada a perder.

Chegando ao local, todas as suas esperanças se acabam, pois rapidamente identifica a mão dourada de seu amado irmão. Daí, ele desaba num choro melancólico. A cena é finalizada com um plano geral lindamente construído com os escombros e o que restou dos personagens envolvidos. Talvez esse seja o ponto alto do episódio, brindado com uma atuação avassaladora de Peter Dinklage.

Passado isso, a dona da festa aparece. Daenerys surge de forma surpreendentemente assustadora e imponente – com as asas de Drogon ao fundo e as tranças em seu cabelo a tornando, de fato, a mãe dos dragões. Um discurso incendiário anima as suas tropas, enquanto um apreensivo Jon Snow e um revoltado Tyrion surgem na cena. É empolgante a honestidade e simplicidade da resposta do último à sua rainha, colocando-o, mais uma vez, entre os personagens mais admiráveis da série. Isso até o desenrolar da trama a partir daí, que levanta muitas questões em tempo ínfimo. De repente, nos pegamos lidando com possibilidades extremas, colocadas em tela de maneira convenientemente apressada. Não temos tempo para absorver o impacto ou apreciar o movimento das peças no tabuleiro (algo que a série costumava possibilitar magistralmente em suas primeiras temporadas). Assim, fica evidente que o tempo não estava a favor dos produtores da série, tendo que embrulhar as consequências de oito temporadas da forma mais ágil possível. Evidentemente, o resultado não é dos melhores.

Podemos fazer um argumento sobre a velocidade dos eventos ser um reflexo da adrenalina embutida nos personagens. Afinal, com as chances de ocorrer mais uma injustiça, os “heróis” (entre aspas porque é um conceito bastante relativizado – se não inexistente – na série) devem se definir rapidamente. Não há tempo para pensar, só agir. Faria sentido, uma vez que tudo se resolve no início e os outros dois terços do episódio são dedicados a fazer emendas, inclusive as reações dos personagens aos seus próprios atos. Mas tudo é feito da maneira mais anticlimática e protocolar possível, com toneladas de falas expositivas e sem muitos intervalos para sabermos o que sentir. Toda a poética nas duas cenas iniciais citadas se perde, sendo simplesmente uma tradução literal e pouco inspirada do que está no roteiro (que não é dos mais engenhosos também).

Poderia questionar as decisões narrativas aqui – a maneira como “resolvem” todos os problemas do mundo – mas seria perda de tempo. Qualquer coisa poderia ser plausível, dependendo da maneira como é feita. Essa por sua vez, é completamente sem vida – o que é simbólico para uma série que se descaracterizou quando foi se rendendo ao fan service. Agora, não há nem fan service, nem sua (quase recuperada) identidade – apenas uma conclusão qualquer. O que pode ter sobrado de bom é a mensagem por trás da escolha do novo rei: a ideia de que as memórias de um povo, e as narrativas criadas através dela, são o que verdadeiramente impera qualquer nação (para o bem ou para o mal). Interessante colocação, mas não precisava esfregar na cara com monólogos artificiais.

The Iron Throne é um final mediano para uma série excepcional que marcou uma geração. Talvez algumas lições possam ser tiradas daqui, e eu nunca diria que, em algum momento, a equipe não deu o seu melhor, mas problema é que algo se perdeu no caminho. Talvez seja culpa das engrenagens, que consumiram por completo o que poderia ter sido tão pleno quanto Breaking Bad – mas esse barco já zarpou faz tempo (durante a quinta temporada, provavelmente). Agora, com a obra completa, só nos resta celebrar os bons momentos e tentar entendê-la como um todo.

Crítica | Game of Thrones: Temporada 8 – Episódio 6 (Series Finale)
The Iron Throne começa muito bem, mostrando as consequências do último episódio de maneira poética e apropriadamente dramática. Porém, solucionam tudo da forma mais apressada e expositiva possível, não nos deixando absorver a tensão colocada ou sentir o peso do que acontece.
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