Crítica | Ghost in the Shell: SAC_2045

Escrito por: Gabriel Santos

em 05 de maio de 2020

Ghost in the Shell é uma das obras japonesas mais influentes da temática cyberpunk. Criado por Masamune Shirow, nos anos 1980, o mangá ganhou diversas adaptações até os dias de hoje – incluindo um filme hollywoodiano estrelado por Scarlett Johansson. Depois da franquia ganhar um live-action, surgiu a ideia de inovar novamente com sua primeira série em CGI, exclusiva da Netflix (um dos serviços de streaming que mais investe nesse tipo de produção).

Para os desavisados, Ghost in the Shell: SAC_2045 trata-se de uma continuação de Solid State Society e faz parte da saga Stand Alone Complex (por isso a sigla no subtítulo). Portanto, o nascimento da ciborgue Motoko Kusanagi é mostrado apenas na abertura do anime, ao som de “Fly with me“, com direito a uma referência à clássica cena em que a protagonista salta de um prédio. Quem não assistiu às animações anteriores pode ficar um pouco perdido com o início, mas não demora para que a história caminhe sozinha e insira novos elementos. Na trama, agora ambientada no ano de 2045, a reestruturada Seção de Segurança Pública 9 precisa lidar com uma nova ameaça chamada “pós-humanos”.

Uma das principais diferenças que temos entre esta série e as anteriores é seu visual. Além da animação em 3DCG, feita em parceria entre a Production I.G. e a Sola Digital Arts, outra grande mudança é o design de personagens, feito pela russa Ilya Kuvshinov. Apesar do estranhamento inicial, é impossível não admirar o trabalho artístico. Mesmo que as personagens femininas pareçam bonecas, toda a ambientação mantém uma pegada realista, apresentando uma riqueza em detalhes através da textura, incidência de luz e reflexos. As coisas ficam ainda mais impressionantes na cena da floresta do episódio 12, onde a ambientação é ainda mais fotorrealista. Definitivamente, não estamos acostumados com esse tipo de qualidade em animes.

Durante as cenas de ação, a direção da dupla Kenji Kamiyama e Shinji Aramaki faz o anime parecer bem “cinematográfico”. Por exemplo, nas perseguições, a câmera emula tremidas e há uma boa movimentação para estabelecer o público espacialmente, com um detalhe: sem as limitações que um live-action teria. Infelizmente, isso não é sentido nas outras cenas, onde temos a impressão de que estamos assistindo a cutscenes de um jogo de videogame, principalmente devido à movimentação artificial dos personagens.

Sobre a trama em si, os primeiros episódios passam um pouco a ideia de que o anime está mais preocupado em entregar grandes sequências de ação – que realmente são boas – do que contar a história. Quando essa dinâmica se inverte, a condução começa a ficar arrastada e as coisas demoram para acontecer – por exemplo, a equipe de Major só é reestruturada no episódio 8. Em meio a altos e baixos, a trama é recheada com momentos empolgantes e plot-twists criativos. Ela volta a ganhar fôlego com o surgimento dos inimigos da temporada, os pós-humanos – talvez um pouco tarde demais.

Os vilões realmente representam uma ameaça que está em um novo nível e um desafio à altura para nossa protagonista. A segunda parte desta primeira temporada se mostra mais coesa narrativamente, onde o foco fica para a investigação de casos envolvendo estes seres, sempre com temas ligados à tecnologia. Graças a isso, temos episódios interessantes que são “muito Black Mirror”, inclusive com tramas bem parecidas. Porém, o anime acaba trabalhando apenas com histórias isoladas e deixa muitas perguntas em aberto sobre o que são, de fato, os antagonistas. Na tentativa de aguçar a curiosidade do público, o final acaba sendo muito frustrante.

Já sobre os personagens, o destaque fica para Major, que demonstra muita atitude e personalidade, cumprindo muito bem seu papel de protagonista. Batou também é um personagem carismático e prova que consegue carregar um episódio inteiro nas costas. Já um dos problemas é Purin, que está muito deslocada dentro da proposta e passa toda a temporada tentando encontrar seu espaço dentro da equipe – e do próprio anime. É como se pegassem uma personagem de outra série e colocassem em Ghost in the Shell. O resto da equipe atua apenas como coadjuvante e em certos momentos é um pouco descartável.

Com uma segunda temporada já confirmada, Ghost in the Shell: SAC_2045 tem um começo com alguns tropeços, mas não podemos ignorar que há ótimos momentos. Entre os problemas que precisam ser corrigidos estão o ritmo narrativo e o excesso de enrolação. Espero que o anime aprenda com os erros e entregue um resultado melhor nos 12 episódios restantes.

Crítica | Ghost in the Shell: SAC_2045
A animação demora a engrenar, porém, quando precisa, consegue entregar momentos empolgantes. Além do belo visual, há potencial na história, que poderia ser ainda melhor se fosse direto ao ponto.
3.5

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