Crítica | Rambo: Até o Fim

Escrito por: Gabriel Santos

em 18 de setembro de 2019

Nos anos 1980, um dos personagens de ação mais icônicos do cinema era Rambo, vivido por Sylvester Stallone. Depois de ter interpretado uma versão mais velha do ex-soldado, em 2008, surgiu a oportunidade para mais um longa, trazendo uma abordagem diferente para a franquia e a encerrando de maneira honrosa. Por outro lado, ele também mantém características negativas dos anteriores, como demorar a engrenar, pesando no resultado final.

Desta vez, a direção ficou por conta de Adrian Grunberg, que já esteve envolvido em diversas produções do gênero, como Plano de Fuga. Já o roteiro, além de Stallone, foi escrito por Dan Gordon, que também tem experiência no ramo pelos projetos dos quais participou, principalmente nos anos 1990. Com esses nomes à frente, foi o suficiente para produzir um ótimo filme de ação, mas que pesa na tentativa frustrada de injetar carga dramática. Na história, depois de voltar para casa em Rambo 4, o ex-combatente da Guerra do Vietnã decide ter uma vida mais tranquila nos EUA. Mas quando uma jovem é sequestrada por um cartel mexicano, ele precisa colocar em prática tudo que aprendeu.

Uma das principais diferenças entre este e os anteriores é justamente o inimigo do protagonista. Enquanto a maioria dos longas explorava confrontos contra o exército, em países que estavam em guerra, os fãs do personagem têm a chance de vê-lo na cidade, lidando com problemas de menor escala, porém nada fáceis. Também é uma forma de aproximar – mais uma vez – o personagem com questões atuais. Neste caso, a tensão política envolvendo o México, por conta da fronteira entre os países pelo Arizona.

Durante a primeira meia hora, somos apresentados ao dia a dia de Rambo, e é construída sua relação paternal com Gabrielle (Yvette Monreal). Mesmo que o drama presente seja necessário para construir a narrativa do longa, ele poderia ser resolvido de forma mais simples e enxuta, pois gasta muito tempo de tela. Tudo é pouco interessante, prejudicado pelo ritmo e falta de foco no protagonista, que, a princípio, é apenas um coadjuvante de sua própria história.

Monreal consegue transmitir todo o medo e sofrimento da personagem através de sua atuação. Porém, não convence em passar o mesmo drama quando interage com outros personagens, onde seus sentimentos são mais ditos do que expressados. No fim, sua função narrativa se torna apenas uma motivação para Rambo ter mais pessoas para caçar, o que realmente importa, portanto funciona.

No início, ver Sylvester Stallone interpretando Rambo sem seu visual clássico, que inclui o cabelo grande e a faixa, causa um certo estranhamento. Hoje, a figura do ator é muito maior que a do ex-combatente, então é como se ele estivesse interpretando apenas mais uma personagem de ação. Com o tempo, é possível se acostumar com essa nova versão, que pode ter mudado física e emocionalmente, mas ainda mantém sua essência.

Stallone está excelente como um Rambo experiente, intimidador, ainda perturbado por tudo que viveu e melancólico. Também é muito gratificante vê-lo usando armas clássicas, como sua faca e arco e flecha, assim como preparando suas armadilhas estratégicas, outra marca registrada. Desta vez, ele também surpreende com as mãos nuas, resultando em cenas angustiantes.

A dupla de antagonistas Victor (Óscar Jaenada) e Hugo Martinez (Sergio Peris-Mencheta) são tão unidimensionais quanto os vilões anteriores da franquia. Existe a tentativa de criar um arco mais interessante pela relação dos irmãos, mas é rapidamente descartada. Outra personagem que deixa a desejar é a jornalista Carmen Delgado (Paz Vega), pois o roteiro não lhe dá muito o que fazer.

Repetindo o feito de Rambo 4, as sequências de ação são visualmente explícitas, ao estilo gore. Até a metade da duração, elas são apenas pinceladas durante a trama, mas o que realmente empolga é o ato final, onde as mortes são bem variadas e criativas. Um verdadeiro fan-service. Tecnicamente, também é possível notar que esse longa é o que conta com maior valor de produção. Com a evolução da tecnologia e a experiência na maneira de se filmar ação, é possível notar o quanto eles ficaram mais realistas e menos bregas e toscos. Para coroar, o encerramento é poético, mas ao mesmo tempo sanguinário, um combinação que funciona perfeitamente como conclusão da franquia.

Levando em conta o tipo de filme que Rambo sempre foi e a história que quer contar, parece que falta coragem para se assumir e mostrar o que os fãs querem ver. Há momentos energéticos o suficiente para fazer o espectador vibrar, mas eles demoram a acontecer e poderiam estar mais presentes. O tempo que é gasto construindo um drama mais profundo – que não funciona – poderia ser melhor aproveitado, gerando um resultado mais “redondo”. Rambo: Até o Fim certamente vai agradar aos fãs do personagem, mas ainda deixa a sensação de que poderia ser melhor.

Crítica | Rambo: Até o Fim
Rambo: Até o Fim é uma ótima maneira de encerrar a franquia, resgatando elementos clássicos dos filmes anteriores. Ao mesmo tempo, é uma boa oportunidade para os fãs verem o ex-combatente em novas situações e enfrentando diferentes inimigos.
3.5

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