Crítica | Turma da Mônica – Laços

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 21 de junho de 2019

O grande cartunista Mauricio de Sousa conseguiu fazer da Turma da Mônica uma das maiores preciosidades da cultura pop brasileira. Criados a partir de 1963 (quando a Mônica surgiu), os personagens encantam várias gerações de leitores e ultrapassaram as páginas dos gibis, já ganhando o mundo e se tornando uma verdadeira marca global. Eles estampam diversos produtos, o que torna quase impossível alguém não conhecê-los. Mas um caminho ainda não tinha sido feito: torná-los pessoas de carne e osso. Então, chega o maravilhoso Turma da Mônica – Laços.

A difícil tarefa ficou nas mãos de Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs), e o diretor soube exatamente como levar Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão para um live-action. Demonstrando bastante sensibilidade e carinho por eles, Rezende também entende a importância desses personagens. Por mais que tenham sido inspirados em figuras reais, nos quadrinhos os quatro possuem estilos caricatos que os definem. Assim, à todo momento Daniel reforça as particularidades de cada um, brincando com as características que os tornam únicos e concentrando sua câmera em cada gesto, expressão e movimento. Na maioria das cenas, o enquadramento deixa todo o quarteto em evidência, destacando as reações de todos durante os diálogos.

Logo se percebe que a essência da Turma da Mônica foi levada perfeitamente para as telas. Além da excelente caracterização dos personagens, as filmagens realizadas no interior de São Paulo e no sul de Minas Gerais fizeram o Bairro do Limoeiro ganhar vida, como se fosse um lugar atemporal que não sofreu as influências da tecnologia e das mudanças. A ambientação de casas simples e ruas tranquilas traz aquela sensação de um lugar em que todos se conhecem. A belíssima fotografia de Azul Serra destaca a beleza da região e a imensidão das florestas, apresentando momentos de pura contemplação. Porém, existem alguns pontos de excesso, que poderiam ser substituídos por mais diálogos ou interação. Além disso, é muito interessante observar como a montagem dialoga bem com a dinâmica dos quadrinhos, deixando o longa com ritmo ágil e delicioso de se assistir, tendo o apoio fundamental da trilha sonora e mixagem de som.

Mais que um filme para os fãs, Turma da Mônica – Laços é uma aventura sobre amizade. Claro que os vários easter-eggs e referências farão os grandes admiradores pularem de alegria, mas esses detalhes se tornam apenas um tempero extra na experiência. O fator nostalgia é forte, entretanto ele não rouba a cena pois a história simples é muito bem elaborada e rapidamente deixa o espectador a par das situações. Na verdade, o roteiro se inspira em uma graphic novel de mesmo nome, feita pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, em que o Floquinho (cachorro do Cebolinha) some e toda a turma se une para encontrá-lo. E felizmente, o roteirista Thiago Dottori contorna a situação de apenas adaptar página por página. Ele adiciona então toda a essência dos gibis, arcos novos que enriquecem a narrativa dando profundidade e também preenche algumas lacunas deixadas na HQ – principalmente em relação aos pais. Dessa maneira, o live-action se torna um projeto que resgata o sentimento de ser criança, fortalecendo o valor da amizade e o poder da união.

Tudo isso se torna possível com o incrível time de protagonistas. Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Laura Rauseo e Gabriel Moreira são autênticas revelações mirins. A escolha por eles, que são rostos novos e pouco conhecidos, é um grande acerto. Sem exceções, os quatro conseguem incorporar perfeitamente seus personagens, nos fazendo acreditar em suas interpretações e parecendo que nasceram para os papéis. Giulia está ótima conseguindo mesclar a doçura e o jeito invocado da Mônica, onde naturalmente altera o humor da personagem – existe uma cena dela que é de cortar o coração do público de tanta emoção. Kevin resgata toda a malandragem e esperteza do Cebolinha, além de “tlocar as letlas” com facilidade, mas não deixa de lado a natureza infantil do menino. Laura leva toda a meiguice de Magali e faz caras e bocas engraçadas com a constante fome dela. E Gabriel também está divertidíssimo fazendo o Cascão, sabendo lidar com o medo do garoto. As cenas dos quatro juntos mostram que laços de amizade foram verdadeiramente criados.

A participação de Rodrigo Santoro como Louco também merece ser mencionada, já que o ator está sensacional no papel. Sua sequência é um momento bastante lúdico e fantasioso dentro da narrativa, que funciona na proposta do roteiro. O personagem não está na HQ original, mas inseri-lo foi uma ideia super bem-vinda, principalmente pela sua importância no desenvolvimento do Cebolinha. A outra parte do elenco adulto não tem tanta presença no filme. Assim, as participações de Monica Iozzi, Paulo Vilhena e Fafá Rennó, por exemplo, são pequenas, com os atores apenas cumprindo seus papéis.

Turma da Mônica – Laços vai te fazer rir, se divertir, emocionar e chorar com uma história encantadora de personagens icônicos. Para quem cresceu com eles, verá um olhar novo e extremamente bem realizado sobre as criações de Mauricio de Sousa. E para quem conhecê-los na tela do cinema, será apresentado a uma aventura digna de sorrisos e risadas, e provavelmente vai querer comprar o primeiro gibi que ver pela frente. Um projeto praticamente irretocável, para toda a família.

Crítica | Turma da Mônica – Laços
Daniel Rezende se revela, novamente, um grande talento do cinema nacional. Através do olhar atento sobre os personagens e suas características, o diretor consegue levar a essência da Turma da Mônica para as telas, com um quarteto de protagonistas excepcional. Um live-action que resgata o sentimento de ser criança.
4.5

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