Crítica | Simonal

Escrito por: Gabriel Santos

em 05 de agosto de 2019

Depois de ganhar um documentário sobre sua vida em 2009, Simonal terá sua história contada novamente nas telonas, agora por meio da ficção. A direção é de Leonardo Domingues, que trabalhou na pós-produção do documentário e apresenta mais um ótimo trabalho.

A cinebiografia começa nos anos 1960, quando Simonal é “descoberto” por Carlos Imperial, e cobre toda sua ascensão artística. Já na segunda metade, durante a Ditadura Militar, é quando o cantor é acusado de um crime e sofre boicote pela classe artística do país, encerrando sua carreira.

Desde a primeira cena, é possível perceber alguns aspectos que chamam atenção e se mantêm durante toda sua duração. O filme abre com um extenso plano-sequência muito bem coreografado, que começa em uma externa e passa por todos os convidados até chegar ao palco, em uma apresentação de Simonal. Além disso, também já notamos, de cara, a qualidade do trabalho de reconstrução da época. Isso inclui um figurino com cores vibrantes, que ficam ainda mais evidentes por conta da escolha da fotografia saturada. Essa decisão nos passa a sensação de que não estamos assistindo a um filme produzido atualmente, mas sim uma gravação da época. Graças a isso, a transição entre filmagens e imagens de arquivo é imperceptível.

O ator Fabrício Boliveira, mesmo não sendo parecido fisicamente com Simonal, convence no papel principal. Ele passa um jeito malandro, descontraído e metido, além de mostrar muito gingado. Isso ajuda na recriação das apresentações, que são feitas com maestria. Apesar de usar o recurso da dublagem – não é a voz de Boliveira que ouvimos, mas sim a de Simonal – ainda passa a sensação de veracidade que o momento pede. Uma das melhores sequências é durante uma apresentação na TV Record, enquanto canta a música “Meu Limão, Meu Limoeiro“. Além de mostrar sua habilidade de conduzir a plateia, ainda há outro longo plano-sequência em que ele deixa o show, vai até a rua e depois volta para o palco.

A química entre Boliveira e Isis Valverde é fundamental para a relação entre Simonal e Tereza funcionar na trama, principalmente pela importância da personagem na vida do cantor. Os dois protagonizam cenas românticas, mas também momentos intensos das brigas do casal. Porém, a personagem de Isis passa por muitas mudanças com o decorrer dos anos, apresentando uma inconsistência do roteiro. Outro destaque é Leandro Hassum, que tem muita presença em cena como Carlos Imperial. Apesar de ter pouco tempo de tela, é o suficiente para se tornar marcante.

Durante o momento de ascensão da carreira, Simonal apresenta uma característica brega – no bom sentido – como as músicas dançantes e empolgantes, além de todo o visual da época, incluindo figurino, cabelo e maquiagem. Até aqueles que não viveram naquele tempo vão reconhecer as canções e pelo menos acompanhar o ritmo contagiante.

Na segunda metade do longa, o tom muda completamente para contar sobre a parte polêmica da vida do cantor. Essa transição não é tão gradual e parece que estamos assistindo a outro filme, com foco na administração da carreira do músico e não nos shows em si. Também é discutido o boicote que o artista sofreu na época, abrindo espaço para uma reflexão sobre o lugar do negro na sociedade hoje.

Simonal é uma ótima forma de celebrar a carreira do cantor, mostrando seu legado para a música brasileira. Também é uma forma de fazer um paralelo com os tempos modernos, alertando para que a história não se repita. É um filme “2 em 1”, que entretém e informa.

Crítica | Simonal
Simonal apresenta uma excelente qualidade técnica, que inclui extensos planos-sequência muito bem coreografados e uma recriação de época que nos faz acreditar estar assistindo a um filme dos anos 1960/1970. Fabrício Boliveira convence no papel principal, recriando apresentações históricas e contagiando o público com o ritmo dançante.
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