Os Jovens Titãs são uma equipe muito popular da DC Comics, tanto que já teve duas séries animadas no Cartoon Network, um longa animado para os cinemas e agora chegou a vez de ganhar uma série live-action para o DC Universe. Apesar das diferenças gritantes entre as produções anteriores, a nova proposta para o grupo funciona muito bem e apresenta os personagens já conhecidos ambientados em um mundo mais realista e sombrio.
Assim que o primeiro episódio foi lançado, fizemos as primeiras impressões sobre a série. E podemos dizer que muitos elementos são mantidos até o fim. Para começar, o tom ainda segue a ideia de mostrar como seria se super-heróis existissem de verdade. Por conta disso, os dramas pessoais ganham muito mais destaque aqui, como a dificuldade que é lidar com super-poderes – na maior parte das vezes visto como uma maldição. Além da responsabilidade em ser um vigilante e como o combate ao crime pode transformar uma pessoa, tornando-a violenta e vingativa.
Para retratar isso temos muitas cenas de violência explícita, que causam bastante impacto e incômodo, um dos principais motivos para a alta classificação indicativa. Porém, felizmente a série não usa esse recurso apenas para chocar o público ou tentar ser adulta. Tudo isso existe para construir seus personagens, sabendo dosar o limite sobre o que realmente é preciso mostrar ao espectador.
Desta vez, a equipe não segue a formação tradicional das animações, deixando Ciborgue de fora – pelo menos desta primeira temporada – mas isso não é um problema. Pelo contrário, desta forma é possível se aprofundar em seus personagens e até mesmo conectar suas histórias, o que é feito de uma forma muito competente.
Quem ganha mais destaque é Dick Grayson (Brenton Thwaites), que está vivendo uma fase interessante da vida: quando deixa o Batman e se questiona se deve continuar como Robin. Ele é quem mais carrega as dúvidas se está agindo da maneira correta como vigilante, por perder o controle enquanto combate o crime. Dick também é o responsável por expandir o universo da DC através de suas tramas.
São mencionados diversos vilões da galeria do Batman, assim como participações pontuais de personagens do universo do Homem-Morcego. Sua história de origem é muito bem apresentada na série, assim como suas motivações, além de protagonizar os melhores episódios. Um exemplo é o que conta com a aparição de Jason Todd (Curran Walters), assim como o último da primeira temporada, que impressiona ao apostar em algo inesperado.
Quem também ganha muita importância é Rachel (Teagan Croft), que ainda não é a Ravena que conhecemos. Basicamente, a história que esta temporada nos propõe a contar é sobre a personagem, pegando como gancho o enorme poder que ela carrega. Sua trajetória vai além de aprender a controlar seu dom – que conta com artifícios usados em filmes de terror para explorar o sobrenatural -, como também encontrar seu lugar no mundo. Porém, sua história acaba se perdendo em tantos episódios, pois a personagem não consegue sustentá-la e poderia ser resolvida de forma mais curta e simples.
Kory (Anna Diop), a Estelar, também é uma personagem muito poderosa, mas aqui sua principal característica é a perda de memória que é tratada durante toda a temporada. Porém, esse elemento sofre com uma certa inconsistência de importância, tanto para a própria personagem quanto para a série. Também não conhecemos tanto sobre ela e quando isso é feito, acaba se tornando apressado e pouco desenvolvido.
Mas o personagem mais prejudicado pela trama é Garfield (Ryan Potter), o Mutano. Um dos pontos mais decepcionantes sobre ele são seus poderes, sendo capaz de se transformar apenas em um tigre, quando originalmente o personagem pode virar qualquer animal. Isso perde muito da identidade do herói, que aqui é reduzido ao alívio cômico, muitas vezes ineficiente e destoante. Ainda existe uma tentativa de trabalhar os instintos primitivos de Garfield quando se transforma em fera, além de explicar “quem fica no controle”, mas tudo isso é tratado de forma superficial.
Com exceção do Robin, nenhum dos personagens acima é exatamente o que nós conhecemos. Portanto, ainda há esperança de que eles sejam desenvolvidos futuramente. Enquanto isso, o que temos é uma equipe que está começando a se entrosar e a presença de laços entre eles ficando mais fortes, o que funciona bem quando estão juntos em tela. Porém, isso não acontece muito nesta primeira temporada, pois na maior parte das vezes a equipe está dividida.
Em relação ao visual, que foi criticado por parte dos fãs ainda nas fotos dos bastidores, dentro da narrativa é bastante funcional. O mais fiel e realista é Dick Grayson, que usa um uniforme funcional e tático, o que combina totalmente com a proposta. Enquanto os outros contam com cores e elementos que remetem aos personagens que conhecemos e suas características marcantes.
Quem completa o time de heróis é a dupla Rapina (Alan Ritchson) e Columba (Minka Kelly) que têm o que acrescentar na série e são muito bem-vindos, apresentando uma boa dinâmica. Mas o que diverge do universo criado são seus visuais, parecendo que eles fazem parte de outra realidade. Ainda contamos com a Patrulha do Destino, que ganhou um episódio e vai ter sua própria série em breve, servindo basicamente como uma introdução dos personagens.
O uso dos efeitos visuais da série conta com altos e baixos, que podem ser justificados por conta do orçamento. Por exemplo: algumas habilidades, como as de Kory, são bem executadas, mas o Tigre de Garfield não passa realismo – e não estou falando da cor verde. O mesmo acontece nos efeitos aplicados em sequências de ação que demonstram agilidade ou força sobre-humana, como também podem ser notadas nas séries da DC Comics na CW.
Outra coisa que a série deixa a desejar é um vilão – ou equipe de vilões – marcante para que nossos heróis pudessem enfrentar. Tivemos a presença de uma versão da Nuclear Family, além do verdadeiro antagonista, que ainda não convenceu por não ter tempo suficiente de tela para isso. Ele pode ser a grande ameaça da segunda temporada, mas nada foi pensado à altura para que a equipe fosse reunida na primeira.
Mesmo com alguns problemas, que podem ser corrigidos na próxima temporada, Titãs é uma ótima aposta da DC Comics para criar um novo universo. Uma forma de recontar a origem de personagens já conhecidos, através de uma nova proposta mais realista e sombria. É um início promissor para o DC Universe.