Crítica | Zumbilândia: Atire Duas Vezes

Escrito por: Gabriel Santos

em 01 de novembro de 2019

Em 2009, chegou aos cinemas Zumbilândia, um filme de comédia com zumbis que brincava com os clichês do sub-gênero, fazia referências à cultura pop e apostava no carisma do quarteto protagonista. Com o tempo, ele rapidamente ganhou o status de cult, marcou uma geração e logo os fãs pediram por uma sequência. Ela só chegou 10 anos depois, trazendo de volta não apenas os mesmos atores, como também a equipe criativa por trás do projeto, como o diretor Ruben Fleischer e os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick. O resultado é o que todos estavam esperando, incluindo os pontos positivos e negativos.

Assim como no original, o tema de Zumbilândia: Atire Duas Vezes é a família. Enquanto no primeiro era mostrado o grupo se unindo, agora, depois de dez anos de convivência em um mundo pós-apocalíptico, as relações começam a ficar desgastadas. Reunir a mesma equipe do antecessor foi essencial para que o longa funcionasse, pois aqui mostram o quanto entendem desse universo e seus personagens.

A sensação é que o mesmo tempo que passou para nós, também passou para eles, criando uma maior conexão por parte do público. A nostalgia conta muito por revisitarmos uma boa memória, mas continuando aqueles eventos. Graças a isso, a produção é recheada de referências aos acontecimentos do anterior, que nada mais são do que um grande fan service. Claro, o mesmo acontece com a cultura pop, zumbis e até mesmo atualidades.

A relação entre os protagonistas é algo que o roteiro dá muito foco, sendo intensificada pela atuação. Todos do elenco estão muito à vontade em seus papéis e seus personagens se tratam como amigos de longa data. Assim, realmente é possível acreditar que passaram todo esse tempo juntos. Entre as temáticas, estão a relação paterna entre Little Rock (Abigail Breslin) e Tallahassee (Woody Harrelson), e o relacionamento entre Columbus (Jesse Eisenberg) e Wichita (Emma Stone).

Mesmo que todos estejam muito bem, há alguns destaques, pois o tempo de tela de cada um é desigual. Breslin é a mais prejudicada por isso, mesmo que a trama gire em torno de sua personagem. Por outro lado, é a que mais mudou do grupo, já que a atriz ainda era uma criança no original. Os maneirismos de Eisenberg se destacam não só pela interpretação do ator, como também pela narração em voice over, que está mais metalinguística e divertida, fazendo observações pontuais muito bem escritas e colocadas. Harrelson tem como principal característica o exagero na atuação que, mesmo sendo caricato, funciona no contexto. Já Stone tem a personalidade mais madura do grupo, apresentando comentários ácidos.

Entre o elenco adicional, quem rouba a cena é Madison (Zoey Deutch), se tornando a melhor personagem desta sequência. A atriz potencializa o papel, que poderia ser apenas uma patricinha estereotipada. Berkeley (Avan Jogia)Nevada (Rosario Dawson)Albuquerque (Luke Wilson) e Flagstaff (Thomas Middleditch) funcionam dentro da proposta pontualmente, mas não são tão cativantes ou marcantes quanto Madison.

Com tantos personagens na trama, quem fica em segundo plano são os zumbis. Por um lado faz sentido, pois se os protagonistas estão há 10 anos os enfrentando, não são mais uma preocupação. Porém, para torná-los mais atrativos, o filme apresenta novas espécies, mas o problema é que são pouquíssimo explorados. Dessa forma, os mortos-vivos apenas fazem parte daquele ambiente e do cotidiano, com a infecção ganhando mais importância que eles próprios. Isso ainda afeta as cenas de ação, que são poucas e não empolgam, com exceção de um plano-sequência muito bem filmado. Ainda vale a observação de que o CGI está mais presente, apesar de mais aparente.

Uma das marcas de Zumbilândia é o exagero: o quarteto passa por situações inusitadas e as resolvem de forma tão bizarras quanto. Assim como no de 2009, esse elemento também está presente, mas em alguns momentos chega a desafiar a inteligência do público. O roteiro apela para recursos que incomodam e prejudicam a trama, como resoluções muito simples, coincidências e Deus Ex Machina. Além disso, enquanto o humor funciona muito bem, não é possível dizer o mesmo da tentativa de criar dramaticidade, pois nunca fica crível.

Em resumo, Zumbilândia: Atire Duas Vezes é um filme feito para os fãs do primeiro. Quem não o assistiu vai se divertir com a nova versão, mas não terá a mesma experiência e não pegará todas as referências – o principal recurso cômico. É uma ótima comédia de zumbis, mesmo que não seja sobre zumbis. No fim, o saldo é positivo e seria ótimo termos uma nova versão em 2029.

Crítica | Zumbilândia: Atire Duas Vezes
O longa foi feito para os fãs do original, usando as referências como principal recurso cômico. O quarteto principal está excelente, passando muita veracidade em sua relação. Entre as adições do elenco, Zoey Deutch rouba a cena, enquanto os zumbis ficam em segundo plano.
3.5

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