Crítica | Malévola: Dona do Mal

Escrito por: Gabriel Santos

em 15 de outubro de 2019

Entre os remakes que vêm sendo produzidos pela Disney nos últimos anos, Malévola (2014) é um dos pontos fora da curva pela proposta de mostrar a história que já conhecemos pela perspectiva da vilã. Assim que sua continuação foi anunciada, muitos se perguntavam o que mais poderia ser explorado desse universo, mas aqui temos uma ótima justificativa.

Enquanto o primeiro longa contava com maior apelo ao público infantil, o segundo inclui discussões políticas de forma que dificilmente vemos em contos de fadas: depois que o encanto era desfeito, pulávamos rapidamente para um casamento e o “felizes para sempre”, mas em Malévola: Dona do Mal vemos toda discussão em torno do matrimônio. A união não é apenas um gesto de amor, causando consequências para os dois reinos. Também é levado em conta a má fama da protagonista após os eventos do primeiro filme e sua relação materna com Aurora.

A história começa cinco anos após os eventos do original, ou seja, o tempo que se passou para os personagens é o mesmo para o público. Isso cria uma maior conexão ao revisitar este universo e ver o quanto todos amadureceram. Aurora (Elle Fanning), como Rainha dos Moors, conta com mais responsabilidades e ganha mais destaque do que no anterior. Ela se vê tendo que tomar decisões importantes sobre seu futuro, precisando confrontar até mesmo sua madrinha. Mesmo com a mudança na escalação do Príncipe Philip (sai Brenton Thwaites e entra Harris Dickinson), a química entre os atores funciona muito bem, rendendo momentos fofos e apresentando uma paixão crível, o que é fundamental para a história.

A vilã da vez é a Rainha Ingrith, um papel que encaixa muito bem com a atuação de Michelle Pfeiffer. Ela representa um contraponto à altura de Malévola, sendo responsável por uma das melhores partes do filme: no jantar com as duas famílias, a tensão aumenta gradativamente com seus comentários ácidos e sutis. Mesmo assim, não deixa de ser uma vilã unidimensional, apesar do esforço da atriz. O roteiro adota, inclusive, as clássicas cenas expositivas onde todo o plano é contado.

Felizmente, o mesmo não acontece com Malévola (Angelina Jolie), a personagem que mais ganha camadas. Logo em sua introdução, temos uma sequência digna de filme de terror, dando destaque para seus chifres icônicos e sua aura aterrorizante. Ela está ainda mais intimidadora e poderosa, com cenas muito empolgantes. Ao mesmo tempo, também a vemos mais insegura e vulnerável. Ainda temos a oportunidade de conhecer sua origem e ver outros de sua espécie, o que, à primeira vista, é bem interessante. Porém, é decepcionante ser apresentado a um novo universo para o longa se restringir apenas aos personagens Conall (Chiwetel Ejiofor) e Borra (Ed Skrein). Talvez valesse ter um filme inteiro apenas para explorar esses seres.

Um dos grandes destaques de Malévola: Dona do Mal é o espetáculo visual, que pode ser notado desde o plano sequência inicial, passando por todas as ambientações e apresentando os contrastes entre elas. No Reino dos Moors, por exemplo, tudo é muito colorido, mágico e vívido, com uma composição visual agradável e harmônica. Ainda somos apresentados a novas espécies de fadas, além das já conhecidas. Já o Reino dos Humanos é mais explorado que no longa de 2014, tendo como principal característica o luxo e a ostentação. Inclusive, design de produção, maquiagem e figurino estão bem acima da média.

Por outro lado, como é de costume nos filmes da Disney, este é muito carregado nos efeitos visuais, o que não deve agradar quem não é entusiasta de CGI. Apesar deles funcionarem em 90% das cenas, há sequências em que ficam mais perceptíveis, quebrando a magia. Já a trilha sonora, apesar de não ser uma das mais marcantes entre as produções do estúdio, tem competência em intensificar emoções.

Com um excelente início, mas alguns tropeços no terceiro ato, Malévola: Dona do Mal consegue ser superior ao anterior, entregando uma história mais madura. Ela transita por sequências divertidas, tensas e empolgantes que certamente vão agradar aos fãs. O destaque fica, novamente, para Angelina Jolie, se consagrando como a icônica vilã.

Crítica | Malévola: Dona do Mal
O longa é superior ao seu antecessor, dando ainda mais camadas à icônica vilã, com destaque para a atuação de Angelina Jolie. O design de produção, figurino e maquiagem são bem acima da média, enriquecendo a construção de mundo.
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