Crítica | O Pintassilgo

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 10 de outubro de 2019

As tragédias podem marcar nossas vidas de diversas formas. No caso de Theo, protagonista de O Pintassilgo, um atentado terrorista se torna o fato que define sua trajetória, já que ele perde a sua mãe e salva a pintura de Carel Fabritius, que dá titulo ao longa. O diretor John Crowley consegue desenvolver momentos interessantes dessa jornada, aliado a uma estética bastante atraente, mas erra no ponto crucial da história: a intensidade. Seu trabalho acaba chegando em um meio termo complicado, com várias outras razões que impedem o sucesso do projeto.

O filme, adaptado do livro de Donna Tartt, tem em seu maior desafio apresentar os vários personagens e subtramas que circulam a vida de Theo Decker – o romance tem mais de 700 páginas. O problema é que o roteiro de Peter Straughan tenta condensar a obra, deixando muitas questões inacabadas e superficiais dentro da proposta. Enquanto temos momentos bem desenvolvidos, outros são simplesmente pontuados, nos fazendo questionar o quão importantes são para a narrativa. Na infância do protagonista, interpretado por Oakes Fegley (bastante competente no papel), o trauma dele é trabalhado com sensibilidade. Ao longo dessa fase, vemos como as situações são cada vez mais difíceis para o menino, e como a sua proximidade (praticamente materna) com Mrs. Barbour (Nicole Kidman) foi essencial para ele não entrar no luto sem fim. Já adulto (Ansel Elgort), vemos outras consequências que enfrenta.

Temos, então, uma narrativa não linear que alterna entre o passado e o presente. O roteiro propositalmente deixa algumas lacunas na história que só são solucionadas ao longo da projeção. Acaba que essa decisão atrapalha o foco da trama, a carga dramática da história e, como determinadas situações não possuem um valor narrativo bem apresentado, muitas nuances se perdem. Por mais que o protagonista tenha tido um afeto enorme com Pippa (Aimee Laurence/Ashleigh Cummings), não existe dramaticidade suficiente na fase adulta deles. A montagem também dificulta o projeto, existindo incoerências na passagem de tempo e criando algo por vezes enfadonho.

O ato final mostra-se o mais problemático. Com a necessidade de resolver muito do que foi apenas plantado na história, percebe-se uma correria que destoa completamente do ritmo monótono estabelecido. A presença de Boris (Finn Wolfhard/Aneurin Barnard) é importante para a “conclusão” do protagonista, porém se perde em meio ao desequilíbrio narrativo.

Toda essa superficialidade acaba atrapalhando o desempenho de grande parte do elenco. Elgort e Kidman estão bem em seus papéis, mas não possuem material suficiente para trabalhar seus personagens. Outros nomes como Sarah Paulson, Jeffrey Wright e Luke Wilson possuem presenças fortes, entretanto em papéis bem unidimensionais. Fica a sensação de que todos são muito mais do que aparentam, só que não existem cenas que nos comprove isso.

A belíssima direção de fotografia de Roger Deakins acaba sendo o centro das atenções do projeto. Ele nos traz uma estética reluzente, contrastando as várias fases de Theo. Na família de Mrs. Barbour, em que é acolhido, temos ambientes com cores vivas que estão de acordo com a energia da matriarca. Quando ele vai morar com Larry (Wilson), seu pai ausente, tudo é mais sóbrio. Podem parecer decisões óbvias, mas estão perfeitamente coerentes com os sentimentos do protagonista com relação ao local em que está vivendo.

O Pintassilgo parece um quebra-cabeças que somente será montado se alguém lhe mostrar as peças perdidas. A elegante imagem que teremos não vale todo o esforço. É uma narrativa manipuladora que, infelizmente, não funciona como deveria. Caso o roteiro tivesse mais cuidado, o elo emocional do público com a história e os personagens soaria melhor, e resultaria em um filme menos maçante.

Crítica | O Pintassilgo
Apesar de sua belíssima estética e elenco primoroso, O Pintassilgo não dá conta de suas várias subtramas, trazendo um resultado bastante superficial. O público ganha momentos interessantes, mas a intensidade da história se perde no roteiro que tenta condensar muito, e acaba mostrando pouco.
2.5

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